Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ex-diretor de Tecnologia e Informática dos Correios Eduardo Medeiros de Morais negou hoje durante depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados que tenha sido indicado para o cargo por meio de articulação política do secretário-geral licenciado do Partido dos Trabalhadores (PT) Silvio Pereira. Eduardo Medeiros afirmou ter conhecido o ex-secretário do partido dois meses depois que assumiu o cargo de diretor, em 2003.
Morais afirmou que se encontrou pessoalmente por duas vezes com Silvio Pereira, explicando que o ex-secretário seria o "responsável por coordenar a distribuição dos cargos" nas empresas estatais. "Fui eu quem o procurei. Fui ao encontro dele eu e o ex-diretor dos Correios Mauricio Madureira. Nós o procuramos para nos apresentar, falar do nosso currículo. A informação que tínhamos na época é que ele era a pessoa que coordenava a distribuição dos cargos", afirmou.
Poucos minutos depois de fazer a afirmação ao conselho, o ex-diretor dos Correios voltou atrás em suas palavras. "Se eu dei esse depoimento de que talvez fui levar o meu currículo, gostaria de me retificar. Eu não levei papel nem documento, o currículo. Eu discorri sobre o meu passado, o meu histórico dentro da empresa. Eu não tinha que prestar satisfação a ele. Constava que ele era a pessoa que trabalhava na composição dos cargos do governo. Fomos até ele para estabelecer canal, vínculo que nós não tínhamos", afirmou.
Morais foi exonerado do cargo em maio deste ano, depois da divulgação de fita de vídeo em que o ex-chefe de Contratação e Administração de Materiais da estatal Maurício Marinho aparece falando de um suposto esquema de propina na estatal que beneficiaria o PTB.
O ex-diretor afirmou que a maior parte dos cargos nas diretorias dos Correios ao longo dos dois anos e meio em que ocupou o posto eram indicações políticas. "Nós tínhamos dois diretores que eram suplentes de senadores, outro diretor indicado pelo ex-ministro Eunício Oliveira, outro diretor indicado pelo presidente do partido. Era uma composição de diretoria altamente forte politicamente", afirmou. Por esse motivo, o ex-diretor disse que não era "interessante politicamente" dizer nos Correios que sua indicação era técnica, e não política, como afirmou ao Conselho de Ética.
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Além dos dois encontros que manteve com Silvio Pereira, segundo ele, um em Brasília e outro em São Paulo, o ex-diretor disse que conversou com ele por telefone no dia em que foi divulgada a reportagem com as imagens de Maurício Marinho. Medeiros reiterou por diversas vezes que não tinha relações políticas com Pereira, assim como com nenhum político do PT.
O relator do Conselho de Ética, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), disse que o ex-diretor dos Correios entrou em contradição ao falar sobre o seu relacionamento com Silvio Pereira. "Percebi esforço para desvincular a sua indicação do nome do senhor Silvio Pereira. Mas creio que não foi convincente nesta parte. Ele titubeou em alguns momentos. Ele deve ser justo com o senhor Silvio Pereira, que acho foi o grande responsável pela manutenção dele no cargo", afirmou Carneiro.
Morais também negou durante o depoimento haver favorecimento de empresas em licitações, ou mesmo superfaturamente em contratos na estatal, enquanto ocupou o posto nos Correios. Ele rebateu as acusações de que estaria envolvido em um suposto faturamento de R$ 2 bilhões no projeto "Correio Híbrido" - sistema de recebimento eletrônico e impressão de dados da estatal. "Eu tomei conhecimento dessas denúncias pela imprensa. O projeto foi aprovado por toda a diretoria da empresa", disse. O ex-diretor também negou as informações divulgadas pela imprensa de que teria favorecido a empresa Novadata em licitações. "Essa empresa estava sempre nos visitando e acompanhava as licitações, mas não ganhou quase nenhuma", disse.