Danielle Coimbra
Da Agência Brasil
Brasília – O índio truká Aurivan dos Santos Barros, conhecido como Neguinho Truká, foi preso enquanto prestava depoimento à Polícia Federal na cidade de Salgueiro (PE) sobre a morte de seu irmão e seu sobrinho – mortos a tiros por policiais à paisana no último dia 30. Ele está preso desde ontem (11) na delegacia de Cabrobó, a 600 quilômetros de Recife, em Pernambuco, e é acusado de furto em 2003. Segundo o Conselho Indigenista Missionário do Nordeste (Cimi), ele é um dos principais líderes truká.
Segundo o advogado do Cimi Sandro Lobo, a acusação é de que o índio teria roubado gado de uma fazenda invadida por fazendeiros na Ilha de Assunção em Cabrobó, no ano de 1999 – mesmo período em que foram retirados os últimos fazendeiros e posseiros que tinham invadido as terras consideradas tradicionais e eram então reocupadas pelos índios.
O advogado informou que o Cimi entrará amanhã (13) com pedido de liminar de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, para que Neguinho Truká possa responder em liberdade até o julgamento do caso. "Essa prisão não faz sentido, uma vez que o índio estava no direito de lutar por sua terra", afirmou.
O mandado de prisão contra Neguinho Truká foi expedido em 26 de agosto de 2003 pelo Desembargador do Tribunal de Justiça de Pernambuco Dário Rocha. Porém, os advogados de defesa entraram com pedido de habeas corpus na ocasião, e ele não foi preso.
O procurador Federal da Fundação Nacional do Índio (Funai) Cláudio Santos de Souza está em Salgueiro – onde Neguinho Truká está preso – acompanhando o caso. De acordo com a Funai, as terras da Ilha de Assunção são hoje ocupadas inteiramente pelos Truká, que trabalham como agricultores no cultivo do arroz.
O irmão de Neguinho, Adenilson dos Santos Vieira, 38, e seu sobrinho, Jorge Adriano Ferreira Vieira, 17, foram mortos a tiros quando participavam de uma festa junina com mais de 400 pessoas. De acordo com o Cimi, Adenilson era uma grande liderança. Segundo o tenente coronel da Policia Militar de Pernambuco Edein Vespaziano, os índios foram mortos em confronto com policiais.
Sandro Lobo informa que o problema entre os Truká e a Polícia Militar de Pernambuco existe desde quando os índios começaram a reocupar suas terras e passaram a retirar dali os fazendeiros invasores.