Benedito Mendonça
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A indústria brasileira fechou maio com queda em suas vendas (1,5%) e na utilização de sua capacidade instalada (0,5%). O número de empregos ficou estagnado no mês. Um dado positivo foi o aumento da massa salarial. Os dados fazem parte do boletim Indicadores Industriais, pesquisado pela Confederação Nacional da Industria (CNI) e são comparados com o mês anterior dessazonalizado – quando é retirado o efeito de diferença por períodos. A pesquisa é feita mensalmente pela CNI com aproximadamente três mil empresas.
Flávio Castelo Branco, coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, disse hoje (6) que um dado positivo é a trajetória de crescimento dos salários reais. Para Castelo Branco, com a queda da inflação e a continuidade de recuperação dos salários por força dos dissídios, "nós temos essa trajetória, que a demanda doméstica de consumo deve dar alguma sustentação ao crescimento do segundo semestre".
De acordo com a pesquisa da CNI, a massa de salários cresceu 9,22% se comparada com maio de 2004 e 9,06% na comparação entre os cinco primeiros meses de 2004 e de 2005. "Essa forte expansão da massa de salários industrial dá algum fôlego ao consumo das famílias e atenua o arrefecimento da demanda interna, que se segue do aperto monetário", diz o documento. Na projeção de Castelo Branco, "o dado de salário continua positivo e apontando ainda que há espaço pelo lado do rendimento para um grau de sustentação da demanda".
No entanto, a pesquisa mostra um arrefecimento do ritmo das contratações de mão-de-obra, e de outro, evidencia o crescimento de 0,78% da massa de salários, "única variável a apresentar crescimento dessazonalizado em maio, relativamente a abril". Segundo o documento da CNI, a estabilidade dos preços em maio contribuiu fundamentalmente para o bom resultado desse indicador.
Mesmo sem ter crescido em relação ao mês anterior, o nível teve alta de 5,72% ante maio de 2004 e acumulou crescimento de 6,54% nos primeiros cinco meses de 2005, relativamente a igual período do ano passado. Dessa forma, o documento da CNI admite que esse ritmo de crescimento "é o dobro da taxa de crescimento anual do emprego em 2004, atual recorde".
Castelo Branco projeta para os próximos meses um crescimento não tão forte quanto o registrado no primeiro semestre. "Ainda assim, a economia, apesar de desaquecer, ela não está em trajetória de inflexão e vai continuar o ritmo de aquecimento talvez mais baixo e se intensificando até o final do ano, na medida em que a política monetária comece o seu o processo de flexibilização", afirmou. Segundo Castelo Branco, esse processo de flexibilização deverá começar a ocorrer ainda no próximo mês.
Na visão de Castelo Branco, a condição para investimento é crítica para determinar o ritmo da economia e da demanda doméstica no segundo semestre. Para ele, a intensidade de investimento foi reduzida no primeiro semestre devido ao desaquecimento da economia e as elevadas taxas de juros, mas, os investimentos não pararam de ser feitos. "Esse investimento pode ser retomado com uma melhor perspectivas, inclusive, com algumas medidas de custo e investimento como as que foram tomadas pelo governo", observou.
Sobre os motivos que levaram ao desaquecimento da atividade industrial em maio, Castelo Branco explicou que a razão fundamental está associada à persistência da deteorização do quadro financeiro, com a elevação das taxas de juros, que vem já desde o final do ano passado, e que só não foi mais danosa para o setor, no caso das vendas domésticas, em função da ampliação de outras fontes de crédito que se ampliou nesse período.
"Apesar de alguns dos números ligados a produção, como vendas e horas trabalhadas, se mostrarem negativos, os números do mercado de trabalho são positivos, no dado dessazonalizado, mas também já sinalizam, no caso do emprego, que ele está sendo afetado pelo ambiente econômico desfavorável à expansão da produção", avaliou.