Múcio nega propostas de ''mensalão'', confirma reunião sobre doação, mas nega saber de recebimento

29/06/2005 - 19h06

Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O líder do PTB na Câmara, deputado José Múcio (PE), negou hoje durante depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados que tenha recebido qualquer oferta de pagamento de mesada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) ou mesmo que tenha discutido o assunto com líderes do PL e do PP.

O deputado disse que ouviu falar pela primeira vez em rumores de pagamento de mesada a parlamentares por meio do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). "Eu não recebi nenhuma proposta para recebimento de dinheiro. Ninguém me dirigiu qualquer proposta. O Roberto me falou de rumores do mensalão, e foi quando ouvi falar nisso pela primeira vez", disse o líder.

Em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", Roberto Jefferson disse que o líder José Múcio teria participado de encontro com o presidente do PL, Waldemar da Costa Neto, e com o ex-líder do PP na Câmara Pedro Henry (MT). "Eu não discuti essa proposta com eles", disse José Múcio ao conselho. O líder do PTB também afirmou que a bancada do seu partido na Câmara não teria chegado a colocar em votação a suposta proposta de pagamento de mesadas, ao contrário do que afirmou Roberto Jefferson em depoimento ao Conselho de Ética no início de junho.

Segundo Múcio, Jefferson teria relatado a 40 deputados do PTB, em reunião informal do partido, que não aceitava ouvir falar na suposta proposta na legenda, e que denunciaria publicamente no plenário quem aceitasse alguma oferta. "O Roberto disse que não aceitava ouvir falar em mensalão no partido. E disse que, se alguém fosse seduzido, ia ao plenário dizer quem foi seduzido e quem seduziu. E ficou claro para todos que essa não seria uma prática do partido. Mas não houve votação em nenhuma reunião formal", afirmou.

O líder confirmou ter participado de reunião em que o PT teria acertado a doação de dinheiro ao PTB em troca de apoio político nas eleições municipais de 2004. Múcio disse ter ido a uma reunião em junho de 2004 entre membros do PT e o deputado Roberto Jefferson, quando teria ficado acertada uma doação de R$ 20 milhões. "Eu testemunhei o acordo dos R$ 20 milhões, depois não ouvi mais falar nesse dinheiro", afirmou Múcio.

Pela manhã, após depoimento a Corregedoria-Geral da Câmara dos Deputados, o presidente do PT, José Genoino, negou as denúncias. "O PT não fez doação de R$ 4 milhões para o PTB. O PT fez um acordo político eleitoral nas cidades que nós tínhamos alianças com o PTB. E as despesas de show, de material de campanha, e outras coisas, isso nós tivemos responsabilidade, mas jamais acordo de R$ 20 milhões", afirmou.

Múcio disse também que só voltou a ouvir falar nesse dinheiro em março deste ano, quando presenciou encontro entre Jefferson, o presidente do PT, José Genoino, o tesoureiro do partido, Delubio Soares, e Emerson Palmieri, tesoureiro do PTB. "Foi aí que eu percebi que ele (Jefferson) tinha recebido algum dinheiro. Mas essa proposta de doação do PT não foi levada à bancada do PTB", disse Múcio. Segundo o líder, nesta reunião, Jefferson pediu "mais R$ 4 milhões" ao PT.

O deputado afirmou que o dinheiro que teria sido repassado a Jefferson não chegou às mãos do partido. "Tenho quase certeza absoluta que não chegou", afirmou. Ele não soube precisar aos membros da comissão o destino do dinheiro.

Múcio também disse que, em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Jefferson teria feito relato sobre o suposto esquema de "mensalão". "Eu participei do encontro com o presidente, o ministro Walfrido (dos Mares Guia, ministro do Turismo), e o líder Arlindo Chinaglia (líder do governo na Câmara). Estávamos tratando de questões do PTB com o governo. No final da reunião, o deputado Roberto Jefferson disse que o presidente precisava apurar melhor o mensalão. Eu fui testemunha da indignação do presidente", afirmou.