Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em mais de cinco horas de depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, a ex-secretária do publicitário Marcos Valério de Souza, Fernanda Karina Somaggio, afirmou hoje que o empresário manteve durante o ano de 2003 "relações estreitas" com dirigentes do PT. "Todos os dias ele ligava para o Delúbio (Delubio Soares, tesoureiro do partido). As ligações eram feitas do telefone da empresa".
A ex-secretária também disse que Marcos Valério mantinha contatos com o secretário-geral do partido, Silvio Pereira. Ela não apresentou provas no depoimento, como testemunha do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que responde a interpelação apresentada pelo PL por quebra de decoro. Disse apenas que o publicitário mantinha contatos telefônicos diários com o tesoureiro do PT e que os dois se encontravam com freqüência em hotéis de Brasília e São Paulo.
Na véspera das viagens de Marcos Valério, cuja agência tem sede em Belo Horizonte (MG), Fernanda Somaggio disse que ele mandava sacar grandes somas de dinheiro. E que sabia disso por comentários feitos por duas funcionárias do Departamento Financeiro da SMP&B, Geisa dos Santos e Simone Vasconcelos, e dois office-boys da empresa. Eles que seriam os responsáveis pelos saques. "Quando o Marcos vinha a Brasília, no dia anterior era sacada uma grande quantia em dinheiro pelos boys ou pela Geisa. Ele vinha em vôo fretado do Banco Rural. A Simone vinha com ele, e dizia que voltava cansada porque era um entra e sai de homens no hotel pegando dinheiro", afimou a ex-secretária.
Depois de informar nunca ter visto "mala de dinheiro" na empresa, Fernanda Somaggio disse que Marcos Valério também mantinha contatos com o ex-ministro da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP), e negou ter conhecimento de que o dinheiro fosse proveniente de empresas estatais. Também afirmou nunca ter ouvido a palavra "mensalão" mencionada por qualquer funcionário da empresa de publicidade, incluindo Marcos Valério.
Sobre a denúncia publicada na imprensa de que o empresário teria sacado R$ 20,9 milhões em 2004, recursos que segundo Valério tiveram como destino a compra de bois, a ex-secretária disse não ter conhecimento "sobre propriedades rurais (de Marcos Valério)". E acrescentou: "Ele é criador de cavalos, não de bois. Ele não tem fazendas".
Fernanda Somaggio informou ter trabalhado na SMP&B de maio de 2003 a janeiro de 2004 e entregou aos integrantes do Conselho de Ética cópia da agenda em que fazia anotações nesse período. A agenda também aponta contatos do publicitário com políticos como o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e o ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga.
Em relação ao depoimento prestado na Polícia Federal no início do mês, quando negou as acusações que havia feito a Marcos Valério, a ex-secretária disse que temia pela segurança de sua família. "Na véspera do depoimento eu fui abordada por um motoqueiro no meio da rua em Belo Horizonte, enquanto eu dirigia. Ele emparelhou comigo e disse que se eu falasse qualquer coisa, a minha filha e o meu marido estariam em perigo. Mudei de advogado, tivemos uma conversa e ele pediu para eu contar tudo novamente", disse a ex-secretária ao enfatizar que teme represálias.