Divergências nos depoimentos irão obrigar acareações, diz presidente da CPI dos Correios

29/06/2005 - 7h12

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Depois de mais um dia de depoimentos na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga denúncias de corrupção nos Correios, o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirmou que "as divergências nos depoimentos estão ficando a cada dia mais comuns", o que obrigará a realização de acareações. A senadora Ideli Salvati (PT-SC) já apresentou requerimento para uma futura acareação entre Artur Washeck e Arlindo Molina. Ontem (28), os deputados e senadores ouviram os depoimentos de Joel Santos Filho e Arlindo Gerardo Molina Gonçalves. Para Delcídio, "está mais claro que existe uma ação articulada com interesses específicos na estatal".

O primeiro confessou ter sido um dos autores da gravação de vídeo com o ex-chefe de departamento dos Correios, Maurício Marinho, sobre um suposto esquema de corrupção na estatal para beneficiar o PTB. Já Molina, que se apresentou como "consultor ad hoc" da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é apontado pelo deputado Roberto Jefferson como a pessoa que tentou extorquí-lo para não revelar o conteúdo da conversa de Marinho com Joel Santos Filho e outra pessoa.

No depoimento à CPMI, Molina rebateu as declarações de Roberto Jefferson. Segundo ele, a conversa que teve em 3 de maio com o parlamentar, mesmo dia em que Marinho pediu afastamento dos Correios, teria sido apenas para comentar a respeito do filho do parlamentar, Roberto Neto, que trabalha em Belém (PA) - mesma cidade onde o consultor da FGV presta um serviço. Naquele dia, disse Molina, ele viajaria para a capital paraense.

Pouco antes do dia 3, Arlindo Molina disse ter conversado por telefone com o empresário Artur Washeck Neto, de quem se diz amigo há anos. Nesta conversa, Washeck disse ter mandado gravar a conversa com Marinho. Segundo a versão do consultor, ao chegar em Brasília, Washeck conversou com Molina, mostrou-lhe o DVD com a conversa de Marinho e pediu que contasse ao deputado, então presidente do PTB, o que se passava.

Arlindo Molina disse que só tocou no assunto com Roberto Jefferson no final da conversa, quando este já o conduzia pelo braço a porta do gabinete. Neste momento, passando pelos assessores do parlamentar, o consultor teria revelado a existência da fita e de que Marinho fora flagrado recebendo R$ 3 mil. Molina afirmou que a reação de Roberto Jefferson foi dizer que não conhecia Maurício Marinho.

O consultor, ainda pela sua versão, tentou mostrar ao parlamentar a gravidade da situação dizendo que o funcionário dos Correios estaria utilizando o seu nome, quando Jefferson voltou a reafirmar que não conhecia Marinho. Esta conversa, de acordo com Molina, não durou mais que dois minutos.

Uma questão que intrigou os parlamentares da CPMI foi o trabalho de consultoria desenvolvido por Molina para a Fundação Getúlio Vargas. Todos os quatro trabalhos para a FGV nasceram, segundo o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), de propostas feitas pelo consultor e não por intermédio da fundação. Ele revelou ao parlamentar ter recebido um adiantamento de R$ 150 mil de Carlos Kerner, Coordenador de Projetos da FGV, com quem desenvolve um trabalho gestão administrativa para a prefeitura de Belém. No entanto, confirmou que a fundação ainda não pagou nada por este trabalho que ainda não foi encerrado. Os R$ 150 mil, de acordo com Molina, saíram da empresa de Kerner, chamada CK.

Ao final do depoimento, o deputado Eduardo Cardozo (PT-SP) pediu ao presidente da CPMI que encaminhasse cópias do depoimento de Molina à prefeitura de Belém, ao Tribunal de Contas do Estado do Pará e à presidência da Fundação Getúlio Vargas.