Deputados apontam divergências e contradições entre Múcio e Jefferson

29/06/2005 - 19h28

Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O relator do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), afirmou hoje que o depoimento do deputado José Múcio (PTB-PE) ao conselho mostrou pontos de divergência em relação a declarações o ex-presidente do partido Roberto Jefferson (PTB-RJ) ao Conselho. "Existem algumas informações que são declarações do deputado Roberto Jefferson que não foram confirmadas na ouvida do deputado José Múcio. São alguns pontos de divergência, embora ressalte José Múcio como líder do PTB que diariamente está em encontros e reuniões, e na melhor relação pessoal e política com o presidente do partido", afirmou Jairo Carneiro.

O relator também disse perceber divergências entre Múcio e recentes declarações do presidente do PT, José Genoino, com relação à suposta doação de R$ 4 milhões do PT ao PTB nas eleições municipais de 2004. "O deputado José Múcio não declarou que tenha visto o dinheiro, que tenha ciência plena da doação dos R$ 4 milhões. Mas ele declarou que participou da reunião com essas figuras do PT, quando foi acertado o acordo para doação que ele entende que seria legal da contribuição de R$ 20 milhões para a campanha dos candidatos do PTB. Não sei as declarações pela imprensa do deputado Genoino. Mas haverá contraste se forem verdadeiras com as afirmações do deputado José Múcio, que estava presente na reunião", disse o relator.

Hoje pela manhã, o presidente do PT afirmou, após prestar depoimento à Comissão de Sindicância da Câmara, que o PT não fez doação de R$ 4 milhões para o PTB. "O PT fez um acordo político eleitoral nas cidades que nós tínhamos alianças com o PTB. E as despesas de show, de material de campanha, e outros coisas, isso nós tivemos responsabilidade, mas jamais acordo de R$ 20 milhões", afirmou Genoino.

Para o deputado Chico Alencar (PT-RJ), o depoimento de José Múcio "se choca frontalmente" com as afirmações de Roberto Jefferson ao Conselho de Ética. "O presidente e o líder do PTB estão dizendo coisas bem diferentes. O depoimento de hoje não resolve a questão da apuração do 'mensalão'. Os deputados acusados têm que vir aqui com a maior urgência e não podem adotar qualquer manobra protelatória", disse.

Chico Alencar também defendeu maior apuração sobre a suposta doação de recursos do PT para o PTB nas eleições de 2004. "Ele diz que houve compromisso do PT com o PTB legal, na coalizão para disputa nas eleições municipais para repasse de R$ 20 milhões, e agora ele diz que mais R$ 4 milhões resolveriam o problema do PTB, segundo Roberto Jefferson. Ele foi apenas testemunha dessa queixa. Tem que saber se é mais além dos R$ 20 milhões, isso tudo tem que ser esclarecido", afirmou Alencar.

Já o deputado Mendes Tame (PSDB-SP) considerou as afirmações de José Múcio importantes para as investigações, especialmente no que diz respeito à suposta doação do PT ao PTB. "Qualquer pessoa que esteja vendo movimentação de quase R$ 21 milhões na conta da pessoa denunciada pelo Jefferson vai percebendo que não há corrompidos, há também corruptores. A sociedade não vai aceitar que só se faça o sacrifício, a execução sumária de um deputado que se auto-condenou. A sociedade exige que se faça apuração completa, isenta", afirmou.