Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – As desigualdades raciais no Brasil são um dos entraves para que o país alcance os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, conjunto de metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para serem cumpridas até 2015. Essa constatação está no Atlas Racial Brasileiro (2004) – feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e pela Universidade Federal de Minas Gerais –, e é uma das preocupações da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Hoje, a secretaria promoveu o painel internacional Ações Afirmativas e os Objetivos do Milênio. O debate antecede a realização da 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), a partir de amanhã até o dia 2, em Brasília.
"Esse painel está tornando viva a história dos países. Com isso, nós poderemos entrar na 1ª conferência nacional mais informados e capacitados para pensar o Brasil e o contexto internacional", disse a ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
Na abertura do encontro, o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim lembrou que em sua juventude ele acreditava que não existiam problemas raciais no Brasil e pensava que se os problemas sociais fossem resolvidos os raciais também seriam. "Hoje, a questão se coloca no sentido inverso. Se você resolver o problema racial, você resolve em grande parte o problema social: grande parte dos pobres é negra, ou de origem indígena ou de outras origens", afirmou.
O vice-primeiro ministro da cultura de Cuba, Rafael Bernal Alemany, afirmou que é preciso acelerar o "passo", pois as tarefas que os países têm para cumprir os objetivos do milênio são "colossais". Ele lembrou que no mundo inteiro ainda existem 2,4 milhões de pessoas sem saneamento e 850 milhões de analfabetos. "Teremos que ser nobres para nos entregar a essa tarefa", afirmou.
Alemany disse também que, apesar de Cuba ter conseguido avanços na justiça e na igualdade social ao ter todas as crianças em idade escolar matriculadas, o governo cubano ainda está insatisfeito com o que fez. "Esses programas beneficiam todos, mas nós não avançamos o necessário para identificar as necessidades e os problemas da população", contou.
Já o embaixador Musa Amer Salim Odeh, da delegação especial da Palestina no Brasil, aproveitou o painel para afirmar que a comunidade internacional não faz esforços para ajudar o povo palestino. Ele disse que os israelenses estão tentando destruir a cultura e a história dos palestinos e comparou a situação vivida em seu país com o "apartheid" africano.
"Nossos objetivos são similares ao da África. O que estamos vivendo é similar ao apartheid africano, mas sem o apoio da comunidade internacional, sem o qual é impossível que esse apartheid caia", afirmou.
A ministra de assuntos sociais da República dos Camarões, Catherine Bakang Mbock, expôs a necessidade do debate sobre a luta contra Aids. Essa é uma das principais demandas sociais de seu país.
Segundo a ONU, os objetivos do milênio são: erradicar a extrema pobreza e a fome; atingir o ensino básico universal; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade na infância; melhorar a saúde materna; combater o HIV/Adis, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.
O Painel Internacional e a 1ª Conapir fazem parte da programação do Ano Nacional da Promoção da Igualdade Racial (2005). Os debates e as idéias recolhidas servirão para consolidar a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial.