Dívida agrícola prejudica emprego, diz vice-presidente de federação

28/06/2005 - 16h30

Cecília Jorge
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Nos últimos dois meses cerca de 32 mil empregos foram desativados no campo, segundo o vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Hermes Ribeiro. Ele é um dos organizadores do "Tratoraço – O Alerta do Campo", que está senso realizado em Brasília. Segundo ele, o desemprego é uma das conseqüências da crise vivida pelo setor que responde por 40% dos empregos do país.

Ribeiro afirmou que essa crise foi agravada pela estiagem que atingiu principalmente os estados do sul. Os produtores rurais reclamam do alto custo de produção e do baixo preço dos produtos no mercado. "No momento em que formamos a lavoura destes produtos que estão sendo comercializados, nós adquirimos insumos com o dólar a até US$ 3,40", informou Ribeiro. "Hoje, na hora da comercialização, esse mesmo dólar está sendo avaliado na base de US$ 2,35", afirmou.

Segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), os setores mais atingidos são o de produção de algodão, arroz, milho, soja e trigo. O gasto com a produção de 60 quilos de trigo, por exemplo, foi de R$ 39,31 e o preço de comercialização é de R$ 18, perda de 54,21%. O prejuízo registrado na venda do algodão e do arroz é de cerca de 40%. Já na comercialização da soja, a perda é de cerca de 12,5%, e de milho, 8,16%.

Segundo Ribeiro, o baixo valor de mercado dos produtos agropecuários tem provocado o endividamento dos produtores que têm enfrentado dificuldade para pagar os financiamentos feitos para a compra de fertilizantes, máquinas e outros insumos. A prorrogação do prazo para pagar essas dívidas é uma das principais reivindicações do movimento. Eles reivindicam também a criação de uma linha de crédito para os produtores, no valor de R$ 5 bilhões.

Outra proposta do setor é a redução tributária sobre máquinas, tratores e caminhões. Hermes Ribeiro afirmou que a maquinaria produzida no Brasil é comercializada nos países vizinhos a preços menores do que os praticados no país. "A mesma máquina é comercializada do outro lado da fronteira, no Uruguai ou na Argentina, num valor até 45% menor", disse.

A expectativa dos organizadores do "tratoraço" é reunir até quarta-feira cerca de 20 mil produtores rurais na Esplanada dos Ministérios, com mais de dois mil tratores e quase mil caminhões. Ribeiro disse que os manifestantes só devem deixar a cidade depois que o Governo apresentar ações concretas para enfrentar a crise. Nessa quarta-feira, devem se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.