1ª Conferência de Igualdade Racial é oportunidade para o Brasil conhecer o Brasil, diz coordenador

28/06/2005 - 14h06

Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Negros, brancos, índios, ciganos, árabes, palestinos, judeus, asiáticos, muçulmanos e quilombolas. Todos já estão prontos para participar da 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que acontece a partir da quinta-feira (30) até o dia 2 de julho, em Brasília. "É um momento positivo de debate", afirma o coordenador-executivo da conferência, Jorge Carneiro. "O Brasil, com sua dimensão continental, precisa levar em consideração toda essa realidade das relações sociais e étnicas do país, para poder produzir políticas públicas que reduzam as desigualdades, sobretudo raciais. Eu acho que é fundamental o Brasil conhecer o Brasil. E essa conferência abre essa oportunidade."

Em entrevista à Agência Brasil , Carneiro informou que os debates da Conferência – que deverá reunir mais de 2 mil pessoas – serão consolidados num Plano Nacional da Igualdade Racial. "Esse é o sentido da conferência: vamos estar confrontando vários grupos, vai se produzir um eixo de propostas, isso tem que se constituir num plano de ação e esse plano ser executado. Hoje nós já temos uma política nacional de promoção da igualdade racial em curso", afirma ele.

Os preparativos para a conferência iniciaram-se em dezembro do ano passado. Foram realizadas 27 conferências estaduais, duas consultas nacionais (indígena e quilombola), uma audiência com a comunidade cigana e duas reuniões políticas (com as mulheres negras e com representantes das religiões de matriz africana). Nesses encontros, os grupos apresentaram suas principais reivindicações e elegeram os 1.136 delegados que virão a Brasília.

A conferência terá três mesas redondas, com os temas Políticas de promoção da igualdade racial e de ações afirmativas, Diálogo sobre políticas culturais na América e no Caribe e Identidade Nacional, política e legislação para a superação do racismo. Com os debates centrais, funcionarão painéis simultâneos com seguintes os temas: saúde e promoção da eqüidade; educação e relações étnico-raciais; intolerância religiosa; direitos humanos, segurança e justiça; trabalho e geração de renda; cultura, desenvolvimento e esporte; política habitacional e direito a terra; juventude e questão racial.

"O desafio para o estado é produzir políticas públicas considerando os aspectos tradicionais desses povos. Nós não podemos dizer a eles como eles têm que viver, porque eles já têm uma história de vida, uma maneira própria de ser", diz o coordenador.

Participam desse grande encontro diversas representações políticas, intelectuais, religiosas e artísticas. Segundo Carneiro, confirmaram presença a professora Helena Theodoro, o presidente da Fundação Palmares Ubiratan Castro, o ator americano Danny Glover (do filme Máquina Mortífera) e a cantora Leci Brandão, que será a porta-voz dos povos discriminados na abertura da conferência.

Um momento especial será a homenagem à Velha Guarda da Portela, impedida de desfilar no último carnaval do Rio de Janeiro. "Ela representa a ancestralidade, a sabedoria, e através dela vamos estar homenageando todo o sofrimento desse povo no Brasil, a sua história, sua trajetória", fala o coordenador. A parte cultural vai incluir apresentações dos grupos Olodum, Fundo de Quintal, da cantora Leci Brandão e a exibição do filme Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo.