Real valorizado e juros altos prejudicam produtores de jóias, avalia associação

26/06/2005 - 9h05

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio - Da mesma forma que ocorre com o setor têxtil e de confecção, cujas exportações têm o crescimento diminuído em função do câmbio desvalorizado, o setor produtor de jóias brasileiro identifica nesse problema a causa da redução de suas margens de lucro.

Segundo a presidente da Associação de Joalheiros e Relojoeiros do Estado do Rio de Janeiro (Ajorio), Carla Pinheiro, como o preço final do produto está ligado ao valor do dólar e a mão-de-obra e as contas são pagas em reais, a queda da moeda norte-americana acaba aumentando o custo e diminuindo o preço final do produto nacional, o que diminui as margens de lucro do setor.

Carla Pinheiro analisa que, na verdade, as vendas para o mercado externo não são muito prejudicadas pela desvalorização porque a jóia brasileira já é "dolarizada", o que significa que seu preço não apresenta muita oscilação. "É um produto que, tanto no mercado interno como externo, tem a venda indexada ao dólar, porque a matéria-prima, que são o ouro e as pedras, é toda vendida em dólar. Então, acaba não afetando muito. Afeta mais a lucratividade mesmo."

A entidade que Carla preside é associada ao Instituto Brasileiro de Gemas e Metais (IBGM). No ano passado, o setor de jóias do Rio totalizou exportações de US$ 56 milhões, o que representa 60% do volume exportado nacional de jóias. A meta nacional para 2005 é atingir exportações de US$ 1 bilhão, mantendo a participação do Rio de Janeiro em 60% dos embarques efetuados pelo país.

A dificuldade de acesso ao crédito é apontada por Carla como o principal entrave ao desenvolvimento da indústria brasileira de jóias. Ela diz que 95% da indústria joalheira é composta de micro e pequenas empresas, que trabalham com uma matéria-prima cara, que tem que ser comprada à vista. A presidente da Ajorio revela que, nos últimos dois anos, dez indústrias produtoras de jóias fecharam no Rio por falta de crédito para capital de giro. "Uma indústria joalheira precisa de um capital de giro muito alto por conta da compra da matéria-prima. As margens são pequenas. Então, não tem como pegar dinheiro no banco com os juros atuais".

Carla Pinheiro reivindica a criação de uma linha de crédito especial "que possa caber nas margens" utilizadas pela indústria. "Os juros nominais hoje da ordem de 20% inviabilizam a margem da indústria de jóias brasileira, que é exatamente dessa magnitude."

O Rio de Janeiro é o terceiro maior produtor de jóias do Brasil, respondendo por 18% das 25 toneladas de ouro trabalhadas no país. É também o segundo mercado consumidor, com participação de 25% do consumo nacional. Os investimentos do setor fluminense até 2006 alcançam R$ 2 milhões, com a meta de elevar a produção em 8%.