Presidente da CPI pretende ouvir ex-diretores dos Correios na próxima semana

23/06/2005 - 19h30

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) que investiga denúncias de corrupção nos Correios terá agenda cheia na próxima semana. O presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), pretende ouvir os ex-diretores de Operações e de Tecnologia da empresa, Maurício Coelho Madureira e Eduardo Medeiros de Moraes, respectivamente, além do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Delcídio Amaral quer marcar, também para a próxima semana, os depoimentos de Jairo Martins, Joel Santos, Arlindo Molina e João Carlos Mancuso, apontados como participantes da gravação de vídeo na qual o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, deu detalhes de um suposto esquema de corrupção na estatal em favor do PTB.

A agenda de trabalho da próxima semana será definida amanhã (24) de manhã, numa reunião de Delcídio Amaral com os técnicos da CPMI. O senador não descarta a possibilidade de os trabalhos da comissão serem realizados de terça a sexta-feira. No final dos trabalhos de hoje, a senadora Ideli Salvati (PT-SC) e o deputado Maurício Rands (PT-PE) sugeriram ao presidente da CPMI que o depoimento de Jefferson fosse adiado.

Como a agenda de trabalho foi consolidada por acordo entre as lideranças do governo e da oposição, Delcídio não acatou o pedido dos dois parlamentares e manteve o depoimento de Jefferson para a próxima semana, faltando apenas marcar o dia. Ele disse que considera fundamental que os depoimentos de Jairo Martins, Joel Santos, Molina e João Carlos Mancuso, sejam feitos na próxima semana, para esclarecer o esquema de contratação "dos arapongas" que gravaram as conversas com Maurício Marinho.

Nos depoimentos feitos hoje (23) pelos empresários Arthur Washek Neto e Antônio Velasco, sócios da empresa Comam - Comercial Alvorada de Manufaturados Ltda, surgiram algumas contradições. As duas principais dizem respeito às relações de Washek com Arlindo Molina, ex-professor da Escola Naval. Ele disse que tinha uma relação superficial com Molina, a quem teria pedido orientação sobre como proceder no encaminhamento da fita de vídeo. No depoimento, Washek assumiu responsabilidade integral pela decisão de armar o flagrante de recebimento de propina por Maurício Marinho.

Antônio Velasco, entretanto, afirmou que Washek e Molina se conhecem há pelo menos quatro anos. Ele disse que, há cerca de 30 ou 40 dias, o sócio teria sacado R$ 27 mil de sua participação na empresa para "um empréstimo" a Molina. Os deputados e senadores estranharam porque este período é bem próximo de 3 de maio, quando Roberto Jefferson tomou conhecimento da existência da fita de vídeo e Maurício Marinho pediu afastamento do cargo.

Delcídio Amaral levanta a dúvida de que o esquema de "arapongagem" armado contra Marinho possa fazer parte "de uma operação maior" de gravações contra outras pessoas. A seu ver, o depoimento de Velasco aponta para o caminho de "uma grande articulação entre as pessoas envolvidas no processo de gravação".

Além de analisar as contradições dos dois depoimentos de hoje, os técnicos da comissão terão outro desafio no fim de semana: fazer um contraponto das declarações dadas por Maurício Marinho à CPMI e à Polícia Federal com o que está gravado em 1h54 de fita de vídeo.