Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Santarém – Desenvolver uma indústria de ponta que aproveite economicamente a biodiversidade amazônica. Essa é a grande contribuição que a ciência brasileira poderia dar ao desenvolvimento sustentável, acredita Carlos Nobre, presidente do Grupo Consultivo Internacional (IAG) do Programa Piloto para Proteção de Florestas Tropicais no Brasil (PPG7), durante o terceiro dia do Seminário Nacional de Avaliação do PPG7. Ele participou do debate Produção Sustentável com Inovação e Competitividade, em Santarém.
"A proposta parece elitista, e de certa forma é. Mas o desafio tecnológico não precisa necessariamente andar junto com o social. Uma coisa é produzir conhecimento, outra é disseminá-lo, garantir que vá melhorar a vida da população", argumentou.
Porém, para a palestrante Márcia Muchagata, da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA), não se deve separar a produção de tecnologia da sua apropriação social. "Temos que pensar a ciência e a tecnologia a partir do conceito de agroecologia, que é um processo sempre participativo, do qual não se podem excluir as esferas política e social", contestou.
Nobre afirmou que são precisos U$S 300 milhões anuais de investimento estatal, durante pelo menos 15 anos, para se conseguir realizar a revolução tecnológica da qual a Amazônia precisa. "Precisamos olhar os problemas em uma escala macro, porque ela revela nossa falta de cultura de desenvolvimento tecnológico. Em 2003, o Brasil cadastrou 140 invenções no escritório de patentes dos Estados Unidos. A Coréia, 3.500. Hoje só 0,8% da população brasileira está envolvida com pesquisa e desenvolvimento. Em Cingapura, são 12%", declarou.
Durante o debate, Jorge Zimmermann, diretor de Agro-extrativismo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), lembrou que é preciso fugir do risco da sobre-valorização do saber técnico. "Eu me envergonho do que fiz aqui em 1968. Cheguei do Rio de Janeiro, agrônomo recém-formado achando que na Amazônia ninguém sabia de nada", contou.
Ontem, no primeiro dia de avaliação do PPG7, uma das conclusões apontadas foi a de que as populações tradicionais – indígenas, descendentes de quilombolas, pescadores artesanais, camponeses, extrativistas – são as grandes aliadas na luta pelo meio ambiente. Por isso, a necessidade de valorização de seus conhecimentos.
O Programa Piloto é fruto da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), uma iniciativa de cooperação multilateral voltada ao teste e desenvolvimento de estratégias inovadoras de proteção e uso sustentável das florestas tropicais brasileiras. Desde a sua criação, já investiu 400 milhões de dólares em projetos na Amazônia e na Mata Atlântica. Os recursos da Alemanha, União Européia, Reino Unido, Estados Unidos, Holanda, Japão, França e Canadá são canalizados por meio de um Fundo Fiduciário de Florestas Tropicais (RTF), administrado pelo Banco Mundial. A coordenação-executiva do programa é da Secretaria de Coordenação Amazônica (SCA) do Ministério do Meio Ambiente.