Miro diz que "mensalão" era assunto de conversas nos bastidores da Câmara

21/06/2005 - 19h37

Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Durante o depoimento de mais de três horas ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, o deputado Miro Teixeira (PT-RJ) disse hoje que ouviu falar em diversas ocasiões nos bastidores da Câmara sobre a existência do suposto esquema de "mensalão" no Congresso Nacional, para além do encontro que manteve com o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) em 2003. Hoje, o ex-ministro confirmou que, no ano de 2003, o ex-presidente do PTB lhe contou sobre o mensalão. Miro Teixeira, no entanto, não afirmou quem seriam os parlamentares que teriam conversado com ele sobre a mesada. Disse apenas que ouviu falar "aqui e ali, por alguns parlamentares que eram até do PSDB".

A partir das revelações, Miro Teixeira garantiu que deu início a uma série de investigações na Câmara sobre a existência do suposto pagamento de mesada, mas não conseguiu reunir provas que comprovassem a remuneração aos parlamentares. "Eu venho investigando até agora. Eu me surpreendi com a entrevista de Jefferson. Li entrevista do deputado Osmar Serraglio (PT-PR), ele dizendo que tinha ouvido bochichos na Casa. Agora, eu conversei com pelo menos uma pessoa de cada partido, gente que eu confio, parlamentar antigo. E dizia: vamos tentar encontrar provas para fazer denúncias com consistência. Isso é verdade, fora disso é fantasia", afirmou. Questionado sobre quem seriam as pessoas com quem o deputado conversou sobre o mensalão, ele disse que se elas quiserem, devem revelar os fatos, não ele.

O ex-ministro reiterou que, se tivesse reunido qualquer prova que comprovasse a existência do mensalão, a teria tornado pública. "Se eu tivesse colocado a mão em uma prova, eu teria levado a denúncia à tribuna da Câmara", garantiu. Miro Teixeira pediu empenho ao Conselho de Ética para que apure as denúncias e busque provas que possam esclarecer se alguns parlamentares foram beneficiados com qualquer tipo de remuneração paralela. "Eu não sou confundido com a história do mensalão, e a maioria dos deputados não é confundida com a história do mensalão. Vamos atrás da verdade, e essa é a tarefa de Vossas Excelências", afirmou ao dirigir-se aos membros do Conselho.

No final do depoimento, Miro Teixeira admitiu que deixou de revelar ao Conselho de Ética alguns detalhes da conversa que manteve em 2003 com o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o suposto esquema do mensalão. Segundo o ex-ministro das Comunicações, ele não poderia reproduzir aos membros do Conselho "trecho de uma conversa" que é do Roberto Jefferson. "Quem tem que contar é ele, a história é dele, ele declara que participou da reunião comigo. Depois fazem essa pergunta para ele aqui, e ele nega."