Ivan Richard
Da Agência Brasil
Brasília - Ambulância preta, caminhão de lixo e vagão de trem exclusivo eram os meios utilizados para transportar os portadores de hanseníase até 1969. Até então, a doença, de alto poder de contaminação, não tinha cura. Restava aos doentes o isolamento nas colônias de tratamento. Hoje, a hanseníase tem cura e o tratamento é feito em postos de saúde, com o uso de medicamento gratuito.
Entretanto, ainda existem no país 33 ex-colônias que abrigam milhares de pessoas, na maioria idosos, que vivem com seqüelas do antigo tratamento usado contra a doença. A qualidade de vida desses remanescentes das ex-colônias é o foco da I Oficina de Trabalho de Gestores dos Antigos Hospitais-Colônia de Hanseníase, que começou hoje (21) em Brasília.
Durante o evento, que termina amanhã (22), será apresentado um relatório com 126 propostas de melhoria das condições de vida dos moradores das ex-colônias, elaboradas por eles próprios. A oficina tem a participação de representantes do Ministério da Saúde, coordenadores dos programas estaduais de hanseníase, diretores dos hospitais-colônia, representantes do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e do Movimento de Reintegração das Pessoas Portadoras de Hanseníase (Morhan).
"Essa pessoas não podem estar ali esperando a morte. Nós temos que ser a esperança na vida dessas pessoas", disse o presidente do Morhan, Artur Custódio de Sousa. Segundo ele, o relatório mostra que os moradores das ex-colônias querem preservar sua história, o meio ambiente ao redor das cidades e, principalmente, resgatar sua cidadania por meio de atividades esportivas e culturais.
Cristiano Cláudio Torres passou boa parte de seus 66 anos numa das cidades-colônia. Seus pais tinham a doença e, por isso, ele foi separado da família logo ao nascer. Aos seis anos, foi contaminado pela hanseníase e voltou para o mesmo local onde moravam seus pais. "O bacilo de Hansen tem um poder muito grande: ele separa os seres humanos, mas pode também uni-los. Enquanto muitos se separavam da família por causa da doença, eu conheci a minha em razão dela", disse ele.
"Ainda moro numa antiga colônia. Com muito esforço, conseguimos que a Câmara de Vereadores e a Secretaria de Saúde do município de Marituba (PA) funcionassem dentro da colônia, o que trouxe muitos benefícios para os moradores", afirmou Cristiano. Ele alertou, contudo, que essa realidade não se estende às outras ex-colônias. "A maioria está em estado de abandono por parte do governo, por isso, esse encontro é muito importante".
Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2004, mais de 30 mil novos casos de hanseníase foram notificados nos estados brasileiros. De acordo coma Organização Mundial de Saúde (OMS), os países devem apresentar taxa de prevalência de menos de um caso para cada grupo de 10 mil habitantes. Segundo o ministério, no Brasil, a taxa de prevalência hoje é de 1,7 para cada grupo de 10 mil habitantes.
A meta do governo federal no combate à hanseníase é atingir, até dezembro deste ano, a prevalência de um caso para cada 10 mil habitantes. Serão investidos para isso, R$ 13,2 milhões.