São Paulo, 16/6/2005 (Agência Brasil - ABr) - Apesar da abertura de 7.038 novas vagas no mês de maio, o desempenho nos próximos meses já preocupa a indústria de transformação paulista. Isto porque o número, com ajuste sazonal, representa uma queda de 0,06% no nível de emprego do setor, em relação ao mês anterior – o primeiro índice negativo desde dezembro de 2003. "Nitidamente há uma tendência decrescente", avaliou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.
Sem o chamado ajuste sazonal, o nível de emprego apresentou alta de 0,34%, o pior desempenho para um mês de maio nos últimos cinco anos. É a primeira vez desde 2000, quando a Fiesp adotou a atual metodologia de pesquisa, que o número de vagas abertas nesse período do ano é inferior a 10 mil. "Esse não é um número isolado", destacou o gerente do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon/Fiesp), André Rebelo. Como exemplo, citou a indústria de calçados da cidade de Franca, onde devido ao câmbio foi registrado o segundo pior desempenho do mês, com queda de 3,24% no nível de emprego. "Nesse segmento, o nível de emprego vem caindo todo mês e há empresas fechando", revelou.
O pior resultado do mês, no entanto, foi no setor de Esquadrias e Construções Metálicas, com redução de 9,06% no número de vagas. Produtos de cacau e balas (-2,01%) e Fiação e tecelagem (-1,83%) também estão entre os 16 setores com desempenho negativo. Nove setores apresentaram estabilidade e outros 22, desempenho positivo no nível de emprego – os melhores resultados ficaram com Proteção, Tratamento e Transferência de Superfícies (alta de 3,78%), Bebidas em Geral (1,74%), Doces e Conservas Alimentícias (1,29%) e Refrigeração, Aquecimento e Tratamento de Ar (1,17%).
O gerente do Depecon enfatiza, no entanto, que os quatro segmentos com pior desempenho empregam cinco vezes mais que os quatro setores com melhor desempenho, o que agrava as estatísticas. "Para cada cinco demissões houve uma contratação", explica. Segundo André Rebelo, os números de maio são reflexo da elevação na taxa básica de juros (Selic) no final do ano passado. As altas deste ano – interrompidas ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom) – serão sentidas pelo setor produtivo no segundo semestre. "O efeito da taxa de juros leva de seis a nove meses para aparecer", justifica. "Se não demitirmos este ano já estaremos no lucro", avalia.
A expectativa, de acordo com Rebelo, é encerrar 2005 com o número de vagas já acumuladas de janeiro a maio deste ano – cerca de 50 mil. Em 2004, a indústria paulista abriu 144.487 novas vagas. "Com uma expectativa de crescimento de 3,5% a 3,8% no PIB (Produto Interno Bruto), esperávamos 100 mil novos empregos para este ano", revela. Na última semana, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) reviu a previsão de crescimento do PIB, de 3,5% para 2,8%.