Keite Camacho
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O país vive um "bom problema" na criação de empregos, acredita Márcio Pochmann, professor de economia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O "bom problema" é a criação de empregos, mas, em sua maioria, com baixos salários.
Tínhamos "um péssimo problema quando o Brasil não criava emprego", disse Pochmann, em entrevista à Agência Brasil. "Hoje, vivemos uma conjuntura favorável à criação de trabalho. Mas por outro lado, há o problema de criarmos ocupações com baixa remuneração". Segundo ele, "as empresas terminam demitindo pessoas com salários entre R$ 2 mil e R$ 3 mil mensais e contratam pessoas com salários em torno de R$ 350 e R$ 450".
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Números referentes às faixas salariais com saldo positivo de formação de empregos no 1º trimestre de 2005. Fonte: Caged. Elaboração: Editoria de Arte da Agência Brasil
Pochmann acha que a criação de empregos é um fato "bastante positivo, mas o perfil destas contratações está fortemente assentado em trabalhadores com remuneração, em geral, abaixo de três salários-mínimos". Para ele, isso significa que a renda não vem acompanhando o ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil", afirmou.
Para o economista, a melhor remuneração seria a base que permitira ao país crescer pelo mercado interno, fortalecendo a distribuição de renda. No entanto, a ampliação dos empregos não veio acompanhada de melhor remuneração. Pochmann lembra que, desde 1999, estudiosos vêm identificando um ciclo de expansão do emprego formal no Brasil. De acordo com ele, isso se observa desde a mudança do regime cambial no país, com a ascensão do Real, viabilizando as exportações e uma certa expansão do mercado interno.
"Quando você sai de uma situação de um desemprego bastante elevado, a capacidade de negociação pelos sindicatos de pisos salariais ainda não retomou o patamar que teve no final da década de 80", avalia Ricardo Berzoini, que além de chefiar atualmente o Ministério do Trabalho, atuou como presidente do Sindicato dos Bancários.
"Acredito que, passado o período em que o Brasil retomou a convicção de que é possível crescer, vamos entrar num cenário que melhora a capacidade de negociação individual e coletiva", afirmou hoje (16), durante o anúncio de números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), feito pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
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Saldo de vagas formais referentes às faixas salariais no 1º trimestre de 2005. Fonte: Caged. Elaboração: Editoria de Arte da Agência Brasil
O processo de formalização do trabalho no Brasil ainda não é o suficiente, para Marcelo Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Embora o aumento dos empregos formais não possa ser desprezado, Ávila vê como lado negativo a evolução decrescente dos rendimentos de quem tem carteira assinada. "Quando se olha a variação mensal, está negativo em abril, enquanto que os sem carteira têm uma variação positiva", afirmou.
Para Ávila, a renda está perdendo fôlego e deve ficar assim por um tempo, até que ocorra uma queda nos juros. "Não acredito que vai ter recomposição crescente dos rendimentos. O que acho é que vai ficar assim por algum tempo até mostrar uma queda dos juros", considerou.
"Estou reticente com uma continuidade da recomposição dos rendimentos reais", diz Ávila. Com base na Pesquisa Mensal do Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estão se reduzindo a alta dos rendimentos. Em setembro de 2004, os rendimentos haviam crescido 3,2%. "Deste então, só houve arrefecimento", aponta. Em janeiro, teve alta de 3,2%, fevereiro, de 2,6% e março de 2,2%. Em abril, que é o último dado disponível, o rendimento cresceu apenas 0,8%.
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