Priscilla Mazenotti e Alessandra Bastos
Repórteres da Agência Brasil
Brasília, 16/6/2005 (Agência Brasil - ABr) - O ex-agente Serviço Nacional de Informações (SNI) José Fortuna Neves afirmou hoje (16), em depoimento à Polícia Federal, que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) investigava os Correios a pedido da Casa Civil. Segundo Fortuna, a Abin pode estar envolvida na gravação da fita que deu origem às denúncias de corrupção na estatal.
De acordo com Fortuna, o agente da Abin Edgard Lange, conhecido como Alemão, é quem teria contado a ele sobre a participação da Casa Civil nas investigações. Alemão teria dito que a intenção era investigar a Unisys, empresa multinacional de informática que tem convênios com a estatal e com Previdência. "Alemão falou que estava fazendo levantamentos a respeito da empresa, pois havia uma determinação do Gabinete Civil da Presidência da República de retirar a Unisys dos contratos com o governo na Previdência e nos Correios", disse Fortuna à PF.
O ex-agente do SNI passou a ser investigado pela Polícia Federal depois que seu nome foi citado pelo presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), no plenário da Câmara, juntamente com Arlindo Molina. Antes da divulgação da fita pela imprensa, Molina foi ao gabinete do deputado com a gravação. Ele disse à polícia que teria ido alertar Jefferson, mas a polícia investiga se houve tentativa de extorsão. Fortuna nega que conheça Molina.
José Fortuna afirmou também que Alemão pediu a ele para assumir a autoria da gravação antes da fita ser divulgada para a imprensa. "Ele insistia para que eu confessasse ter sido o responsável pela gravação", disse o ex-agente do SNI. Para o advogado de Fortuna, Reginaldo Bacci, seu cliente preenchia os requisitos para ser um possível mandante, já que tinha interesse nos Correios e as empresas a quem prestava consultoria perderam várias licitações.
Segundo o advogado, seu cliente vinha se encontrando desde o início do ano com o agente Edgard Lange. O motivo dos encontros seria a suposta investigação sigilosa da Abin na estatal e Fortuna seria um informante.
A Abin não se pronunciou a respeito das denúncias. De acordo com a assessoria de imprensa, a Agência ainda não teve acesso ao depoimento de Fortuna. O delegado responsável pelas investigações, Luiz Flavio Zampronha, afirmou hoje que Lange pode ser chamado novamente para depor e que será pedida a quebra do sigilo telefônico de alguns suspeitos. Hoje terminou o prazo para o encerramento da investigação, mas o delegado pediu mais 90 dias à Justiça Federal.