Manutenção de juros não reduz gastos de R$ 150 bilhões por ano, comenta economista

15/06/2005 - 8h28

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio – Só uma redução da taxa básica de juros (Selic) poderia reduzir os gastos com pagamento da dívida, opina o economista Reinaldo Gonçalves, professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Segundo previsão do próprio governo federal, o pagamento de juros do setor público deverá consumir R$ 150 bilhões este ano.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou hoje a manutenção da Selic em 19,75%. Em entrevista à Agência Brasil, Gonçalves frisou que como a dívida está muito elevada, o comprometimento do orçamento com juros também é muito alto.

Nesse quadro, a manutenção ou a diminuição da taxa de juros Selic vai afetar pouco a dívida, avaliou o economista da UFRJ que acredita que a dívida interna vai continuar fora de controle, até porque essa redução esperada da taxa pelo Copom não deverá ser significativa. Para ter um impacto efetivo sobre a dívida, a taxa de juros Selic deveria ser cortada pela metade, porque o estoque da dívida está muito alto, estimou.

Outro problema é que, com a tendência do dólar subir, a parte da dívida pública que é de origem externa e uma parte pequena indexada ao dólar vão tender a subir, afirmou.

Reinaldo Gonçalves analisou que a divida pública total está fora de controle porque tem crescido muito nos últimos dois anos e meio em números absolutos. "A dívida externa só não cresceu em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) por causa da queda do dólar", afirma Reinaldo.

A dívida pública líquida consolidada do Brasil atinge quase R$ 1 trilhão, disse Reinaldo Gonçalves. Desse total, cerca de R$ 300 bilhões são dívida denominada em dólar. A dívida externa corresponde a R$ 240 bilhões e os restantes R$ 60 bilhões são dívida interna que está denominada em Real mas pode ser convertida em dólar. As duas sobem quando o dólar desvaloriza.

Até o final do governo Lula, a perspectiva do economista é que o dólar sofra uma razoável desvalorização. "Então, você tem algo como U$ 120 bilhões a U$ 130 bilhões da dívida total do setor público denominada em dólar, sejam U$ 100 bilhões diretamente do Tesouro, seja uma parcela da dívida pública em títulos com correção cambial".