Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Mesmo com a interrupção da trajetória de alta da taxa básica de juros (Selic), a elevação dos últimos meses impactará a economia até o final do ano. O alerta é da professora Marise Fahri, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "As quedas de vendas e salários são apenas a ponta do iceberg", diz ela. "Refletem as altas de juros de novembro do ano passado. Os efeitos demoram de seis a nove meses para aparecer."
Marise acredita que a economia está pagando o preço de um diagnóstico equivocado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Segundo ela, a causa da inflação não é um aquecimento excessivo da economia, mas fatos pontuais, como a alta de produtos internacionais e fenômenos climáticos, como a seca.
Mas o grande vilão, para Marise, é a inflação decorrente do reajuste dos preços administrados: tarifas de serviços públicos privatizados. Estes preços são corrigidos com base no IGPM dos últimos 12 meses, puxando a inflação. "Contra estes preços, a taxa de juros é inócua. A tentativa do BC é fazer com que os demais preços caiam para compensar, mas a alta de juros tem um efeito perverso: reduz o crescimento, reduz a demanda e reduz os investimentos", diz.
A professora da Unicamp explica que a solução para controlar os preços administrados seria refazer os contratos ou, então, revisá-los no vencimento (entre 2006 e 2007). "Enquanto não vencem, não é possível sacrificar toda a economia por causa de um equívoco da privatização", opina.
Marise propõe que os preços administrados sejam excluídos da meta de inflação fixada pelo BC (de 5,1% para 2005). Parte dos chamados preços comercializáveis (aqueles que correspondem a setores com mercado externo) também deveriam ficar fora da meta.
"A meta deveria ser baseada no núcleo da inflação, eliminando assim os preços mais voláteis. Os americanos, por exemplo, tiram da meta energia e alimentos", explica. Marise também questiona a fixação de uma meta de inflação para o período de um ano. "Um horizonte temporal mais longo não sufoca tanto. Nenhum outro país que trabalha com meta de inflação usa este período", destaca.
Por tudo isso, a economista acredita que a taxa básica de juros só começará a baixar, se baixar, a partir do final do ano – "e muito devagarzinho, para não chacoalhar o câmbio. A taxa de câmbio deve ser depreciada lentamente", enfatiza. Segundo Marise, a combinação do regime de metas de inflação com câmbio flutuante colocou o a país numa armadilha. "Desarmar essa armadilha é muito difícil", acredita.