Marcela Rebelo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Comissão de Sindicância da Corregedoria Geral da Câmara dos Deputados convocou para depor a secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio, que trabalhou com o publicitário Marcos Valério de Souza. "A secretária também está no rol de pessoas citadas no requerimento aprovado para que venha depor", afirmou o corregedor-geral da Câmara, deputado Ciro Nogueira (PP-PI).
Marcos Valério é dono da agência publicitária SMP&P e foi apontado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), como o principal operador do suposto esquema de pagamento do "mensalão" a parlamentares do PP e do PL. O esquema teria sido montado pelo o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, em troca de apoio político ao governo. Em entrevista à revista Istoé Dinheiro, a secretária confirma a ligação entre o seu ex-chefe e Delúbio Soares.
A comissão aprovou hoje (15) requerimento para que 40 pessoas prestem esclarecimentos sobre as denúncias feitas por Roberto Jefferson de um suposto "mensalão". Entre elas, estão 14 parlamentares citados por Roberto Jefferson em seu depoimento ao Conselho de Ética da Câmara ou em entrevistas publicadas pela imprensa.
Segundo Fernanda Somaggio afirmou à revista, seu ex-chefe sacava dinheiro no Banco do Brasil e no Banco Rural e entregava aos políticos. Ela cita encontros com entre Marcos Valério, o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, e o ministro da Casa Civil, José Dirceu. A secretária afirma que já viu saírem da agência "malas de dinheiro" e, num trecho da entrevista, diz que, no fim de 2003, presenciou a saída de R$ 100 mil para o irmão do então ministro dos Transportes, Anderson Adauto. Ela revela o pagamento, pela SMP&P, de R$ 150 mil, dividido em duas contas, ao ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga, que ocupou o cargo durante o governo FHC. "A coisa não começou só agora, com o PT", afirma à revista.
Fernanda revela, em outro trecho da entrevista, que havia remessas de R$ 1 milhão. "Já vi um boy sair com motorista para tirar R$ 1 milhão do Banco Rural. Era para depois dividir o dinheiro, entendeu?", afirma a secretária, sem explicitar a quem o dinheiro seria entregue. Ela conta ainda que, certa vez, um office-boy da agência que transportava R$ 500 mil foi roubado.
Outra figura citada por Fernanda Somaggio é a secretária do então presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP). A agência de Marcos Valério, na versão de Fernanda, teria dado passagens aéreas à ex-secretária de João Paulo, como cortesia. "Foi o Valério quem fez a campanha dele (João Paulo) para a Câmara dos Deputados", afirma Fernanda.
Na entrevista, a ex-funcionária do publicitário Marcos Valério revela irregularidades existentes em licitações para decidir que agência de publicidade ficaria responsável por determinada conta. "Quando você entra numa concorrência, a gente já sabe quem vai ganhar e quem não vai. Eles fazem a licitação pública, mas é um jogo de cartas marcadas. Tem quem vai pegar a melhor parte da conta, a pior parte da conta".
Fernanda Somaggio está sendo processada pelo publicitário Marcos Valério por extorsão, segundo informou a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. A denúncia foi recebida pela Justiça no dia 21 de novembro de 2004. No processo, o publicitário alega que, depois de ter sido demitida, Fernanda ameaçou divulgar à imprensa informações sigilosas a que teve acesso enquanto trabalhava na agência.
No dia 20 de maio, Fernanda foi interrogada pelo juiz da José Dalai Rocha, da 6ª Vara Criminal de Belo Horizonte. Segundo a assessoria do tribunal, ela deverá ir novamente ao Fórum Lafayette, na capital mineira, onde será realizada audiência de testemunhas (tanto de defesa como de acusação) no dia 1º de agosto. O publicitário Marcos Valério também deverá estar presente, de acordo com a assessoria.