Banco do Brasil contesta entrevista de ex-secretária que confirma denúncias de Jefferson

15/06/2005 - 11h18

Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Em nota divulgada hoje (15), o Banco do Brasil disse que as declarações da secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio, que trabalhou com o publicitário Marcos Valério de Souza entre abril de 2003 e janeiro de 2004, publicadas em entrevista na revista Istoé Dinheiro desta semana, são "desrespeitosas e caluniosas".

Marcos Valério é dono da agência publicitária SMP&P e foi apontado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), como o principal operador do suposto esquema de pagamento do "mensalão" a parlamentares do PP e do PL. O esquema teria sido montado por Delúbio, em troca de apoio político ao governo.

A secretária, além de confirmar a ligação entre o seu ex-chefe e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, afirmou à revista que o dinheiro viria de um esquema na licitação para as contas publicitárias do Banco do Brasil, cuja empresa de Marcos Valério, SMP&P, está entre as vencedoras. "Todo mundo sabe que tem mutreta no fato de a empresa (SMP&B) ter um bom dinheiro do Banco do Brasil. É tudo negociata. Sei que eles passam dinheiro para o pessoal do governo. Quando você entra numa concorrência já sabe quem vai ganhar e quem não vai."

De acordo com a nota do banco, "o BB realizou processo licitatório público, concluído em setembro de 2003, que resultou na contratação de três agências de publicidade. As empresas vencedoras foram D + Brasil Comunicação Total S/A, DNA Propaganda Ltda e Ogilvy Brasil Comunicação. O processo atendeu integralmente à Lei de Licitações (n. 8.666/93), estando os documentos pertinentes à disposição dos órgãos competentes. Mesmo entendendo serem inconsistentes as declarações divulgadas na entrevista, o Conselho Diretor do BB determinou às áreas competentes a apuração dos fatos".

Segundo Fernanda Somaggio, seu ex-chefe sacava dinheiro no Banco do Brasil e no Banco Rural e entregava aos políticos. Ela cita encontros com entre Marcos Valério, o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, e o ministro da Casa Civil, José Dirceu. A secretária afirma que já viu saírem da agência "malas de dinheiro" e, num trecho da entrevista, diz que, no fim de 2003, presenciou a saída de R$ 100 mil para o irmão do então ministro dos Transportes, Anderson Adauto. Ela revela o pagamento, pela SMP&P, de R$ 150 mil, dividido em duas contas, ao ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga, que ocupou o cargo durante o governo FHC. "A coisa não começou só agora, com o PT", afirma à revista.

Fernanda revela, em outro trecho da entrevista, que havia remessas de R$ 1 milhão. "Já vi um boy sair com motorista para tirar R$ 1 milhão do Banco Rural. Era para depois dividir o dinheiro, entendeu?", afirma a secretária, sem explicitar a quem o dinheiro seria entregue. Ela conta ainda que, certa vez, um office-boy da agência que transportava R$ 500 mil foi roubado.

Outra figura citada por Fernanda Somaggio é a secretária do então presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP). A agência de Marcos Valério, na versão de Fernanda, teria dado passagens aéreas à ex-secretária de João Paulo, como cortesia. "Foi o Valério quem fez a campanha dele (João Paulo) para a Câmara dos Deputados", afirma Fernanda.

Na entrevista, a ex-funcionária do publicitário Marcos Valério revela irregularidades existentes em licitações para decidir que agência de publicidade ficaria responsável por determinada conta. "Quando você entra numa concorrência, a gente já sabe quem vai ganhar e quem não vai. Eles fazem a licitação pública, mas é um jogo de cartas marcadas. Tem quem vai pegar a melhor parte da conta, a pior parte da conta".

Fernanda Somaggio está sendo processada pelo publicitário Marcos Valério por extorsão, segundo informou a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. A denúncia foi recebida pela Justiça no dia 21 de novembro de 2004. No processo, o publicitário alega que, depois de ter sido demitida, Fernanda ameaçou divulgar à imprensa informações sigilosas a que teve acesso enquanto trabalhava na agência.

No dia 20 de maio, Fernanda foi interrogada pelo juiz da José Dalai Rocha, da 6ª Vara Criminal de Belo Horizonte. Segundo a assessoria do tribunal, ela deverá ir novamente ao Fórum Lafayette, na capital mineira, onde será realizada audiência de testemunhas (tanto de defesa como de acusação) no dia 1º de agosto. O publicitário Marcos Valério também deverá estar presente, de acordo com a assessoria.