Marli Moreira e Mylena Fiori
Repórteres da Agência Brasil
São Paulo – Se o Banco Central elevar hoje a taxa básica de juros (a Selic), o aumento, ainda que pequeno, deve ser repassado ao consumidor nos próximos dias. "O sistema financeiro vem acompanhando o comportamento da Selic. Inevitavelmente, os consumidores vão pagar", garante o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira.
Uma simulação da Anefac sobre os efeitos de um eventual aumento da Selic para 20% mostra que a alta implicará em uma correção média de 0,26% na taxa incidente sobre as operações de crédito de pessoas físicas. No comércio, os juros passariam de 6,13% para 6,15% ao mês e de 104,20% para 104,66% ao ano.
Assim, para financiar uma geladeira que custa R$ 800,00, o consumidor pagará 12 parcelas de R$ 96,21 sem entrada – hoje, o custo da parcela seria de R$ 96,10. No total, o preço financiado subirá de R$ 1.153,20 para R$ 1.154,52.
Os juros do cheque especial também subirão com a alta da Selic – dos atuais 8,22 ao mês e 158,04% ao ano para 8,24% mês e 158,61%/ ano. Sobre o cartão de crédito, a elevação será de 10,26% para 10,28% ao mês e de 222,86% para 223,56% ao ano. Já os empréstimos pelo Crédito Direito ao Consumidor (CDC) deverão crescer 0,54%, com a taxa mensal atingindo 3,70% e a anual, 54,65%.
No empréstimo pessoal junto aos bancos, a taxa subirá de 5,81% para 5,83% ao mês e de 96,9% para 97,4% ao ano. Nas financeiras, deverão ficar em 11,9% ante os atuais 11,9% ao mês, o que representará 285% ao ano.
Na prática, no caso de utilização de R$ 1.000,00 do cheque especial, por 20 dias, o consumidor pagará R$ 54,93 de juros contra os atuais R$ 54,80. Se essa mesma quantia for obtida por meio do cartão de crédito, num prazo de 30 dias, os juros subirão de R$ 102,60 para R$ 102,80. No empréstimo pessoal junto aos bancos, um crédito de R$ 1.000,00 em seis meses implicará em juros de R$ 213,68 ante os atuais R$ 212,90.
Segundo o estudo, o efeito nas operações de crédito será pequeno pois a diferença entre a taxa Selic e as taxas cobradas ao consumidor (de 142,47 % em média) chega a 621,37%. O estudo destaca que algumas financeiras cobram até 1.200,00% ao ano em linhas de empréstimo pessoal.
"As taxas ao consumidor estão muito acima da Selic, há uma gordura e há espaço para a queda mesmo que o BC não baixe a taxa básica", afirma Ribeiro. O vice-presidente da Anefac destaca, porém, que os bancos só baixarão suas taxas quando a Selic voltar a cair. "O ambiente político conturbado e a desaceleração econômica, que sinaliza aumento do desemprego e risco de inadimplência, levaram os bancos a adiar a redução das taxas de juros", analisa.
Ele garante que, mesmo a ritmo mais lento, a queda da Selic se reflete nos juros cobrados ao consumidor. De março de 1999 a maio de 2005, sem considerar uma eventual elevação para 20%, o Banco Central reduziu a taxa Selic de 45% para 19,75% ao ano, uma queda de 56,11%. A redução das taxas cobradas pelo mercado, no mesmo período, foi de 42,72%.
Mas Miguel de Oliveira aposta na manutenção da Selic nos atuais 19,75%. "A queda nas vendas, dos investimentos e da inflação no varejo e atacado mostram uma desaceleração da economia, o que permite que o BC mantenha e até baixe a taxa básica", avalia.