Crise boliviana é oportunidade para Brasil repensar políticas em relação ao gás natural

13/06/2005 - 16h29

Bianca Paiva
Da Agência Brasil

Brasília - A crise no fornecimento de gás boliviano para o Brasil pode se converter em uma "oportunidade ímpar" para o governo regular e planejar melhor a utilização dessa fonte de energia, avalia o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires.

"O Brasil não é um país que tem uma cultura de gás", afirmou Pires, em entrevista ao Programa Revista Brasil, da Rádio Nacional AM. Para Pires, o rápido crescimento do uso de gás natural no país nos últimos anos, a partir da construção do gasoduto Brasil-Bolívia, causou excessiva dependência do país em relação a essa fonte energética.

De acordo com ele, a Petrobrás sempre procurou muito petróleo, mas nunca se dedicou a procurar gás. "O consumo de gás no Brasil é 8% da matriz energética, quando a média mundial é 24%. Então, se fez o gasoduto Brasil/Bolívia, o mercado cresceu muito e a nossa dependência ficou enorme. Praticamente, 50% do nosso consumo de gás vêm da Bolívia, é uma dependência excessiva", explica.

Adriano Pires lembra que a Petrobrás possui tecnologia para extrair o gás, que é a mesma do petróleo, mas nunca deu importância ao gás natural como fonte primária de energia no Brasil. Ele enfatiza que a crise da Bolívia é uma oportunidade ímpar para o governo brasileiro acelerar a diminuição da dependência e defende uma lei para o gás natural. "Nós não temos um marco regulatório de gás natural. Se criarmos isso e dermos, através dessa lei, segurança e garantias ao investidor privado, nós poderíamos pegar essas empresas, hoje, que estão abandonando a Bolívia e atraí-las para o Brasil", diz.

O diretor do CBIE avalia que, se a crise se agravar, a alternativa do Brasil seria um plano de racionamento. "Eles chamam de plano de contingenciamento, que na realidade é um racionamento. Vai começar a cortar setores que hoje consomem gás que têm fonte energética substituta mais imediata", afirma.

O professor da UFRJ ressalva que planos futuros de integração energética na região não precisam ser abandonados. "Eu acho que, a médio e longo prazo, as democracias na América Latina estarão mais estáveis e que os governos estarão respeitando mais os contratos firmados com as empresas privadas. Que essa integração prospere e traga benefícios para todos esses países que serão interligados no futuro por gasodutos transportando gás natural", disse, em referência às discussões atuais para a construção de novas estruturas como a que o Brasil mantém hoje com a Bolívia.