Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A alta consecutiva, nos últimos nove meses, da taxa básica de juros é a principal causa para revisar para baixo as expectativas de crescimento do país neste ano. A análise é do economista Carlos Eduardo Soares de Oliveira Júnior, do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP). "Essa questão dos juros fez com que muitos empresários adiassem os investimentos e isso vai ocasionar uma certa diminuição do Produto Interno Bruto (PIB)", explicou.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, divulgou ontem (8) que reviu a projeção para o crescimento do PIB de 3,5% para 2,8% neste ano.
"Não sei se vai chegar até uma diminuição tão elevada como a que eles dizem, mas que vai ocorrer um PIB menor, vai ocorrer", disse o economista. "Apesar do governo ter ampliado a linha de crédito para as empresas, para as pessoas físicas em geral, a questão dos juros causa forte impacto na economia, com redução de investimentos".
Segundo o conselheiro do Corecon-SP, a revisão das projeções de crescimento do Ipea reflete o resultado do PIB do primeiro trimestre do ano, divulgado no final de maio pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que foi de 0,3% em relação ao trimestre anterior. "Já é um reflexo em cima disso, apesar de que, no ano passado, já houve um crescimento bem representativo com relação a anos anteriores. O crescimento (no primeiro trimestre deste ano) foi quase nulo se comparado com o ano anterior", observou.
O economista aponta o dólar como outro motivo de preocupação, porque deverá atingir as exportações brasileiras, principalmente no segundo semestre do ano. "A redução do dólar inibe o comércio exterior. Há necessidade do dólar se valorizar um pouco mais. Nos últimos quinze meses, o real foi a moeda que mais se valorizou em nível mundial", ressaltou.
Segundo ele, é preciso motivar as empresas a investirem na exportação e na qualidade dos seus produtos. Com o dólar baixo, explica o economista, a rentabilidade não é a mesma e os empresários cumprem os contratos que já existem, mas ficam cautelosos em ampliar novos mercados pela baixa rentabilidade. "O dólar valendo entre R$ 2,70 a R$ 2,80 é o nível ideal para que ocorram as exportações", disse.
Para o conselheiro do Corecon-SP, os reflexos do câmbio nas exportações deverão aparecer com mais clareza no segundo semestre, um período tradicionalmente mais forte para a economia. "Acredito que vai ter um crescimento no segundo semestre, que é sempre mais forte, porém o dólar baixo deixa um certo ponto de interrogação, com relação aos investimentos futuros e às exportações", observou.
Oliveira Júnior destaca que algumas medidas deverão contribuir para o desempenho das exportações, como a medida provisória que desonera os investimentos destinados às exportações, a chamada MP do Bem, mas não resolvem o problema. "Com relação à tributação, há medidas positivas, como a MP do Bem – aprovada recentemente – mas para você ter um crescimento que o Brasil necessita, há a necessidade de melhorar um pouco o câmbio e reduzir a taxa de juros. Para que não seja um ano perdido, como alguns querem, passa por estes dois mecanismos", afirmou.