Experiência peruana no combate à lavagem de dinheiro é tema do 4º Fórum de Combate à Corrupção

08/06/2005 - 12h47

Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil

Brasilia – A experiência do Peru em recuperar, há quatro anos e meio, o dinheiro desviado pelo ex-presidente Alberto Fujimori e seu assesor Raúl Montesinos foi discutida hoje (8) em uma das oficinas do 4º Fórum Global de Combate à Corrupção, em Brasilia. O dinheiro obtido com operações ilícitas, como propinas, tráfico de drogas, armas e seres humanos, como tem origem ilegal, é aplicado em negócios formais e legalizado na chamada "lavagem de dinheiro".

O oficial sênior de integridade institucional do Banco Mundial, José Ugaz Sánchez Moreno, disse que a corrupção no governo Fujimori foi facilitada pelo controle que o próprio ex-presidente tinha sobre grande parte dos poderes públicos, dos meios de comunicação e de entidades financeiras. "O Estado foi capturado", afirmou Moreno. Segundo ele, os delitos cometidos variavam de suborno na compra de aviões à cobrança de propina de empresários com o envio mensal de maletas de dinheiro para Fujimori.

Atualmente, dois do três chefes do esquema de corrupção no país estão presos, entre eles Raúl Montesinos. Fujimori recebeu asilo político do Japão e até hoje não respondeu pelos crimes cometidos em seu governo. No total, 1.492 pessoas foram processadas no Peru. Entre os mais de quarenta presos estão ministros, deputados e senadores, membros do poder Judiciário, das Forças Armadas e dos meios de comunicação.

A advogada e membro do do Grupo de Trabalho sobre Prevenção à Corrupção do Departamento de Controladoria-Geral do Peru, Astrid Leigh, foi a responsável pela apuração dos crimes financeiros cometidos na época de Fujimori. Para ela, o caso peruano pode ser considerado um modelo a ser seguido, já que cerca de US$ 210 milhões foram recuperados para o país. Desse total, US$ 75 milhões foram recuperados de bancos suíços e US$ 35 milhões de bancos nas Ilhas Cayman.

"Não importa de que país é a experiência, temos que partir daí e avançar mais porque os casos de lavagem de dinheiro não são especiais em cada país, não são diferentes, a corrupção é a mesma e não distingue países, não distingue norte e sul. Acho que é um elemento humano, um pouco de avareza, de excesso de poder, então as ferramentas que são utilizadas em um país podem ser utilizadas em outro, porque a causa da corrupção é a mesma e, portanto, a solução tem que ser parecida", afirma Leigh.

Para a especialista, a utilização de instrumentos legais que permitam a recuperação do dinheiro e mecanismos de cooperação internacional eficazes são caminhos que os países podem utilizar para avançar no combate à corrupção.