CPI do Tráfico de Armas ouve testemunha anônima por duas horas

20/04/2005 - 18h30

Gabriela Guerreiro e Iolando Lourenço
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Armas da Câmara dos Deputados ouviu hoje (20) uma testemunha anônima que chegou à Câmara escoltada por policiais federais, algemado, encapuzado, usando luvas e óculos escuros. Durante quase duas horas a testemunha foi ouvida em sessão fechada pelos deputados, que não puderam divulgar nenhuma informação sobre o depoimento para preservar o próprio depoente - como estabelece o próprio regimento da Câmara.

O relator da Comissão, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), disse apenas que a testemunha não colaborou para os trabalhos da CPI. "Essa testemunha convocada não anunciou nenhuma disposição em colaborar com a CPI e não é objeto de nenhuma investigação que estamos realizando", disse. A testemunha recebeu dos parlamentares o apelido de "informante X" para que a sua identidade fosse preservada.

Paulo Pimenta disse que a CPI partiu agora para a segunda fase dos trabalhos, na qual serão ouvidas acusados e testemunhas do tráfico de armas no país. A Comissão dedicou a primeira parte dos trabalhos para colher depoimentos de membros do governo, Ministério Público e Polícia Federal. "Tivemos condições de entender o conjunto de mecanismos e falhas da legislação, do procedimento do trabalho policial. A partir do momento que começamos a ouvir testemunhas, queremos compreender a forma de atuação das quadrilhas, as rotas, e identificar onde estão as falhas - uma vez que muitas destas rotas são de conhecimento quase público e o trabalho por parte das autoridades não tem tido um êxito necessário", criticou.

O presidente da CPI, deputado de Moroni Torgan (PFL-CE), disse que os traficantes de armas já modificaram sua maneira de atuação depois do início dos trabalhos da CPI e da sanção da Lei do Abate - que autoriza a derrubada de aeronaves não identificadas no espaço aéreo brasileiro. "Temos rotas que antigamente eram utilizadas dentro do país, e que agora não estão sendo mais utilizadas dessa maneira. A CPI vai começar a interferir na estratégia dos traficantes. Quando estivermos identificando novas tecnologias, novos aparatos para o tráfico, eles vão ter que modificar", disse.

Segundo Moroni Torgan, os países que integram as maiores rotas do tráfico de armas com o Brasil são o Paraguai, Suriname e Bolívia. "As rotas a gente conhece. A gente tem que saber como esse transporte de armamento é feito", afirmou. O presidente da CPI disse que os deputados trabalham para conseguir rastrear o caminho seguido pelas armas de fogo quando saem da legalidade para o tráfico. "O rastreamento vai mostrar o último local onde houve a comercialização regular. A partir daquele local, vai se identificar onde houve o desvio do comércio regular para o tráfico de armas", revelou.