Lula surge como líder sindical em momento de politização dos trabalhadores, diz advogado

18/04/2005 - 15h56

Pedro Z. Malavolta
Da Agência Brasil

São Paulo - O metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva surge como militante sindical e torna-se presidente do sindicato dos metalúrgicos e peões do ABC paulista num momento em que já existe um processo de politização nas fábricas, no início dos anos 70, ao contrário do que se supunha. Essa é a opinião de Antônio Possidônio Sampaio, que foi advogado do sindicato dos metalúrgicos do ABC de 1967 até 1997. Sampaio escreveu dois romances históricos, um sobre como a situação social e econômica da região no início dos anos 1970 e outro sobre a greve de 1979, conduzida pelo atual presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, então à frente do sindicato dos metalúrgicos.

Como parte das comemorações de 30 anos da posse de Lula na presidência do sindicato, hoje (18), em São Bernardo, Sampaio relança seus dois livros em uma única edição, com o título No ABC dos Peões. Segundo ele, os peões, trabalhadores sem especialização, eram malvistos por uma parte dos intelectuais. "Havia uma versão, principalmente entre os acadêmicos, de que os trabalhadores eram todos alienados, gostavam só de loteria esportiva e eram religiosos. Mas a minha prática, o contato diário com esses trabalhadores, me conscientizou de que a realidade era outra. Estava surgindo um processo de conscientização. Só que isso não podia ser muito aberto porque tinha o AI-5 [Ato Institucional nº 5], havia uma perseguição muito grande em cima dos trabalhadores", explica.

Para o advogado, a liderança de Lula ajudou a criar um outro sindicalismo no país. Mas também Lula, quando entrou no sindicato, como membro do conselho fiscal em 1969, estava vivendo esse processo. Ele era "um moço despolitizado, mas muito inteligente", avalia Sampaio. "Em 1975, Lula foi eleito presidente, então começou a fazer uma prática sindical diferente, incentivando novos sindicalistas, negociações diretamente com os patrões.

Essas práticas conferiram a ele um papel que nenhum outro sindicalista tinha atingido", conta. Sampaio lembra que depois da posse de Lula o sindicato passou a atuar na porta das fábricas, na preparação da militância e criou uma imprensa sindical "muito vigorosa", com ilustrações de Henfil e do Laerte.

De acordo com Sampaio, a importância da liderança de Lula pode ser avaliada na eclosão das greves em sua segunda gestão. "Foi em 1978 na Scania, uma greve dentro da fábrica. Mas a principal para mim foi a greve de 1979, liderada pelo sindicato, preparada fora da fábrica e que teve uma grande repercussão dentro e fora do país."