Viagem à África 1: continente africano é uma das prioridades da política externa brasileira

17/04/2005 - 11h50

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Em seu discurso de posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou a África como uma das prioridades de política externa. O compromisso foi reafirmado nos cinco países visitados na missão encerrada na última quinta-feira (14). Lula defendeu a reconstrução das relações com o povo que ajudou a construir o Brasil, se propôs a retribuir com conhecimento e apoio à democracia e pediu perdão aos africanos pelo sofrimento imposto no passado.

"Historicamente, a gente esqueceu a África durante muito tempo e nós queremos resgatar do ponto de vista político, cultural, econômico, comercial, para que a gente possa construir a possibilidade de transformar o século XXI num século de prosperidade para os países pobres", sintetizou o presidente em seu último discurso no continente africano. "Estou convencido de que o século XXI pode ser o século da América do Sul e pode ser o século da África, basta que acreditemos em nós mesmos", repetiu em todos os países pelos quais passou.

Esta foi a quarta viagem do presidente Lula ao continente africano. Lula esteve em Camarões, Nigéria, Gana, Guiné-Bissau e Senegal acompanhado de seis ministros – de Relações Exteriores, Celso Amorim; da Cultura, Gilberto Gil; da Saúde, Humberto Costa; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan; o interino da Educação, Fernando Haddad; e a ministra da Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade Racial, Matilde Ribeiro.

Dois temas multilaterais entraram em pauta nos cinco países: a importância da participação ativa e coordenada dos países em desenvolvimento nas negociações pela liberalização do comércio internacional, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a necessidade de reforma das Nações Unidas, com admissão de representantes dos países em desenvolvimento como membros permanentes em um Conselho de Segurança ampliado.

"Não podemos ser observadores passivos de decisões que afetam o nosso destino", disse Lula em seu primeiro dia na África, referindo-se a uma parceria entre o Brasil e os países africanos na defesa de interesses comuns na OMC. Lula enfatizou o papel central do comércio internacional na luta contra a pobreza e a fome, e convocou as lideranças africanas: "Precisamos unir esforços para corrigir as graves distorções que afetam o comércio internacional, sobretudo o de produtos agrícolas. É justamente neste setor, tão protegido, que nossos produtores são competitivos". E acrescentou: "Juntos, temos de lutar pela eliminação dos pesados subsídios e das medidas protecionistas praticadas pelos países ricos".

O presidente também enfatizou em todos os países visitados que democratização do mundo passa também pela reforma da ONU. "Queremos tornar o Conselho de Segurança mais democrático, representativo e legítimo, com a inclusão de países em desenvolvimento como membros permanentes", declarou o presidente, com o apoio dos africanos. Lula manifestou apoio do Brasil à presença permanente da África em um Conselho de Segurança reformado mas não pediu manifestação explícita de apoio a cada um dos cinco países. Na avaliação do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em um Conselho reformado será natural que os africanos também defendem uma vaga permanente para o Brasil. "Não tenho dúvida de qual será a escolha dos países que estamos visitados", afirmou Amorim durante a missão.