Manifestações no Equador são resultado do aumento da pobreza e exclusão social, diz professor da UnB

17/04/2005 - 11h47

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A deterioração dos indicadores sociais e econômicos é responsável, mais uma vez, pelo estado de animosidade que a população do Equador vem expressando, desde quarta-feira(13), em passeatas e manifestações contra o governo do país. Esse é o entendimento do professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Armando Luiz Sérgio. Segundo ele, existe uma crise social generalizada na América do Sul e o que acontece no momento, no Equador, é reflexo do aumento da pobreza local e conseqüente exclusão social.

"É resultado do descontentamento acirrado" provocado pela dolarização da economia equatoriana, sugerida pelo ex-ministro da Economia da Argentina, Domingos Cavallo, que pretendeu fazer o mesmo em seu país e só não conseguiu por causa da resistência do Congresso, explica. A dolarização "além de não resolver nada, agravou as condições de pobreza do país. Isso, somado à corrupção política que está na alma do estado, foi trágico para o Equador", salientou.

Outro professor de Relações Internacionais da UnB, Argemiro Procópio, também concorda que as manifestações por mudanças políticas no Equador – a começar pela exigência de renúncia do presidente Lucio Gutiérrez – têm raízes no crescente estado de pobreza da população equatoriana. Ele lembra que a dolarização da economia conseguiu domar a inflação no país, que era muito alta, mas também causou "violento empobrecimento".

Paralelo a isso, lembrou que o país andino é grande exportador de petróleo, mas a receita obtida pelos altos preços no mercado mundial não foi repassada para a população em benefícios sociais. Esse quadro, de acordo com sua avaliação, contribuiu para aumentar a revolta dos habitantes de Quito (capital do país) contra a administração governamental, num descontentamento que aos poucos se alastrou para Guayaquil, Cuenca, Riobamba e os maiores centros habitacionais equatorianos.

Argemiro Procópio acrescenta, ainda, que a convulsão social no Equador também preocupa os Estados Unidos, que tem, naquele país, sua maior estrutura militar na América do Sul: a Base de Manta. A análise sobre o assunto será abordada no livro "Os Excluídos da Arca de Noé", que o professor lançará em maio.