Grupo que invadiu Ministério da Fazenda hoje tem discurso radical, diz autor de estudo

14/04/2005 - 18h57

Rodrigo Savazoni
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), que nesta quinta-feira invadiu o prédio do Ministério da Fazenda para exigir o desbloqueio de R$ 2 bilhões do orçamento da reforma agrária, surgiu em agosto de 1997. Formado por militantes de esquerda e por ex-lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o MLST é organizado principalmente no estado de Pernambuco, e possui representantes em Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Maranhão.

De acordo com Marco Antonio Mitidiero, professor de geografia da Universidade Federal da Paraíba e autor do estudo O Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) e as contradições da luta pela terra no Brasil, o MLST se configura como um movimento "muito radical", com um discurso em defesa da revolução socialista baseado nas teses do líder da revolução chinesa Mao Tse Tung. "É até um movimento muito mais radical que o MST", explica Mitidiero, em entrevista à Agência Brasil.

Em meados da década de 90, várias dissidências do MST surgiram em todo o país. No entanto, o MLST, conforme analisa Mitidiero, não se enquadra nesse perfil, apesar de contar com militantes que deixaram, brigaram ou foram expulsos do MST. "Ele nasce por uma articulação política do Bruno Maranhão, um antigo militante do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), que ficou na França auto-exilado e depois ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores", explica.

Para Mitidiero, essa ação do MLST realizada hoje (14) é baseada em uma estratégia midiática. "Não é à toa que esse movimento faz essa invasão agora. O MST ficou marcado, no ano passado, pelo Abril Vermelho. E eles estão sobre o Abril Vermelho, com várias ocupações em todo país. Agora o MLST vem dizer à sociedade que também está em luta", analisa o professor. Para escrever o seu estudo, Mitidiero acompanhou por cinco anos as ações e discussões do movimento.

A pesar de afirmarem possuir uma divergência política e de ação em relação ao MST, os militantes do MLST utilizam as mesmas estratégias do mais importante movimento social brasileiro, com a realização de ocupações de terras e invasão de prédios públicos. A diferença entre eles, no entanto, consiste no modelo de organização, segundo o estudioso. "O MST tem uma unidade na diversidade. É descentralizado e capilar", explica Mitidiero. "Já o MLST é mais próximo de uma estrutura de partido, pois é a cúpula que organiza as ações".