Christiane Peres
Da Agência Brasil
Brasília - A possível existência de um "consórcio" de mandantes para financiar o assassinato da missionária Dorothy Stang voltou à tona após o primeiro depoimento de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, fazendeiro acusado de envolvimento no crime da missionária. Em depoimento à PF de Altamira, Vitalmiro disse que outras pessoas estariam envolvidas no crime.
De acordo com o promotor de Justiça do Pará, Lauro Freitas, essa hipótese já foi descartada. "Não contamos mais com essa hipótese. O Bida cita algumas pessoas que estariam envolvidas nesse consórcio [Laudelino Délio Fernandes Neto e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão], mas a única relação que ele estabelece com essas pessoas em seu depoimento é uma relação comercial", afirmou o promotor.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), presidente da CPMI da Terra, acredita que a polícia terá dificuldade e muito trabalho para concluir as investigações sobre a morte da irmã Dorothy. "Não há diferenças nos depoimentos. Todos se referem, basicamente, ao desconhecimento dos fatos. Alegam inocência absoluta e dizem que são vítimas de injúria. Não há, nesse tipo de depoimento, qualquer avanço em relação à responsabilização do crime. Por isso, creio que a polícia terá muito trabalho para concluir os procedimentos", disse ele.
O senador ressaltou que espera inteligência no depoimento do fazendeiro Bida. "Creio que seria inteligente da parte dele colaborar com a justiça. Com isso, ele pode se valer da legislação, que permite a redução da própria pena, ao colaborar com a justiça. Imagino que viria na defesa do seu próprio interesse que ele esclarecesse os fatos". Bida está sendo ouvido nesta tarde pela comissão. Segundo Dias, há "alguma esperança que ele fale algo novo" que ajude no caso. "Ele só terá benefícios com isso", enfatizou.
Álvaro Dias atribui a violência no campo no estado do Pará à falta de autoridades civis e militares capazes de combater o crime na região. "Precisamos reestabelecer autoridades em todo o interior do Pará, especialmente, na região oeste, para que esse processo de violência e impunidade seja contido", afirmou o senador. Segundo ele, depois que o deputado João Alfredo (PT-CE) concluir o relatório final da comissão, o Ministério Público poderá aprofundar as investigações e responsabilizar civil e criminalmente as pessoas identificadas como responsáveis pelos crimes.