Christiane Peres
Da Agência Brasil
Brasília – Acusado de ser o principal mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang, Vitalmiro Bastos de Moura (Bida) apresentou, em novo depoimento, agora à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Terra, um bilhete que comprovaria a participação de outras pessoas no crime.
Segundo o presidente da CPMI, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), o fazendeiro citou no bilhete três nomes: o empresário da região, Luís Ungaratti, o gerente de sua fazenda, conhecido como "Dominguinhos", e um delegado da Polícia Civil, cuja identidade não foi citada pelo senador, em entrevista à Agência Brasil. "Essas pessoas são citadas no bilhete que foi encaminhado ao Tato [Amair Feijoli da Cunha], que se encontra preso. Bida cobrava que ele dissesse a verdade, lembrando que prometeram a ele 30 alqueires de terra como pagamento pelo trabalho", relata o senador.
No bilhete, escrito pelo irmão do fazendeiro, Bida pede ainda que Tato revele à polícia a existência de um pagamento na quantia de R$ 10 mil, que seria feito por Ungaratti a um delegado como pagamento por proteção.
Para o senador, este é um fato novo e deve ser esclarecido. Segundo ele, a CPMI vai ouvir as pessoas citadas nesse bilhete para obter mais informações. "Ele coloca essas pessoas na condição de suspeitas. E como pessoas suspeitas, elas devem ser investigadas", diz. Além dos citados no bilhete, a comissão deve ouvir também os pistoleiros que mataram Dorothy: Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Batista.
Entretanto, Álvaro Dias lembra que o novo relato não é suficiente para confirmar a existência de um consórcio para financiar a morte da missionária. "É possível que existam outras pessoas, mas não há como afirmar taxativamente nem que o Bida é mandante. Não sei se ele é mandante ou bode expiatório, nem se existem outras pessoas, de maior influência, envolvidas nisso. É muito prematuro, principalmente, para nós acusar, julgar e aceitar como definitivo que esse Bida seja o mandante do crime. Acho que nós vamos ter fatos novos e vamos ver se a polícia vai desvendar esse mistério."
O presidente da comissão afirma ainda que as pessoas estão com medo e evitam dar informações e esclarecimentos sobre o caso. Negam conhecer os fatos e juram inocência. "Nós não encontramos réus confessos. Então o trabalho da CPMI é, sobretudo, conferir transparência e estimular as autoridades responsáveis pela investigação."