Índios comemoram demarcação de terras em Mato Grosso do Sul

30/03/2005 - 19h45

Brasília, 30/3/2005 (Agência Brasil - ABr) - Os índios Guarani-Kaiowá comemoram a homologação da demarcação de suas terras com cantos e danças, nesta noite, durante a Conferência Regional dos Povos Indígenas, que se realiza em Dourados (MS). Desde 1998, os índios reivindicavam a demarcação das terras Nhanderu Marangatu, assinada ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"É uma alegria estar conquistando essa terra", diz a professora da escola indígena dos Guarani-Kaiowá, Leia Aquino Pedro. Para os índios, ela significa uma vitória, mas não um ponto final na luta pelos seus direitos. As terras ainda estão ocupadas por fazendeiros. "Vai ser uma luta ainda pra gente poder retirar essa gente, não sei nem o caminho para fazer com que eles desocupem logo", ressalta a professora.

De acordo com o coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em Mato Grosso do Sul, Egon Heck, a terra está ocupada por três fazendas pertencentes a uma só família e existe a possibilidade de "aumentarem os conflitos na região, já que os índios agora se sentem no direito" de entrar nas terras. Para a retirada dos fazendeiros, é necessário primeiro que eles sejam indenizados, o que não tem data para acontecer. A Fundação Nacional do Índio (Funai) é o órgão responsável pelo cálculo da quantia a ser paga.

Para Leia Aquino Pedro, todos os demais problemas enfrentados, nas áreas de educação e saúde, são conseqüência da falta de terras: "Sem terra, as famílias não têm como sustentar os filhos como devem." No futuro, acrescentou, "poderemos plantar e ter um sustento próprio dentro da aldeia, sem precisar de cestas básicas que o governo dá, pois hoje dependemos disso. Então, as nossas crianças não passarão mais fome".

Os Guarani estão elaborando um estatuto com políticas públicas que eles julgam necessárias para os povos indígenas e que deverá estar pronto para a Conferência Nacional dos Povos Indígenas, prevista para abril de 2006. "Para a nossa autonomia é preciso ter os nossos direitos respeitados", aponta a professora.

O território demarcado tem superfície de 9.317 hectares e fica no município de Antônio João (450 km a sudoeste de Campo Grande). Mais de 500 índios Guarani-Kaiowá vivem atualmente em pouco menos de 100 dos 9,3 mil hectares da área Nhanderu Marangatu.