Missão é ajudar Haiti a sair da crise, diz general brasileiro que comanda as tropas da ONU

23/03/2005 - 13h21

Benedito Mendonça
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Sem comentar o relatório da ONG Centro de Justiça Global, que traz críticas à Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah) com relação à "lentidão na implementação de um programa de desarmamento da população", o general Augusto Heleno Pereira, comandante das tropas de paz no país, observou que "o objetivo da missão é o de ajudar o Haiti a sair da crise e não é o número de armas recolhidas que vai significar que o país vai sair da crise, com 80% da sua população desempregada e vivendo em condições subhumanas". O general, que na segunda-feira (21), em entrevista à Agência Brasil rebateu as críticas do relatório, lembrou que o governo brasileiro vai responder à acusações mediante documento já enviado ao Ministério das Relações Exteriores.

Segundo ele, o mandato da Minustah é claro quando diz que "temos que apoiar o governo interino e também a Polícia Nacional do Haiti, a única força legal do país". Dessa forma, prosseguiu ele, o governo interino do Haiti é o grande objetivo político da Minustah, enquanto a Polícia Nacional do Haiti (PNH) é o grande objetivo operacional da Missão. A Minustah, segundo ele, tem procurado ao máximo trabalhar junto à PNH. "A tarefa de monitorar, instruir, recrutar, acompanhar não é nossa", explicou o general, lembrando que "a tarefa mais próxima à Polícia Nacional do Haiti cabe ao braço da Minustah conhecido como Civipol – Polícia Civil Internacional, que tem um efetivo próximo de 1.600 homens". O general comanda um contingente de 6 mil militares.

De acordo com Augusto Heleno, a Polícia Nacional haitiana tem problemas estruturais nos seus 10 anos de existência. Vão desde a falta de material e equipamento até a inexistência de formação do seu efetivo. "Por isso é que existe aqui uma missão de paz e um dos itens do mandato é o acompanhamento dessa polícia", destacou ele, salientando que esse trabalho é demorado e que tem altos e baixo, mas que "é desenvolvido harmoniosamente, uma vez que esta polícia tem a melhor das intenções e o mesmo objetivo da missão de paz". Na avaliação do general, o resultado conseguido até aqui tem sido muito bom.

Com relação ao direitos humanos, também abordado no relatório, o general Heleno assinalou que "a única coisa que as tropas da Minustah jamais foram acusadas foi de acobertar, participar ou ser conivente com atentados aos direitos humanos". Para ele, é claro para a população do Haiti que todos da Minustah têm uma enorme preocupação não só com os direitos humanos, mas com o ser humano". Segundo o militar, todos os contingentes têm feito um trabalho até sobre-humano na área de ajuda humanitária para conquistar o apoio da população, quando a barreira lingüística torna difícil a aproximação. "Isso é uma constante e ninguém precisa ensinar isso para nós", rebateu ele.

Ao ser perguntado sobre a questão específica do desarmamento dos grupos, gangues e ex-militares, o comandante da Minustah disse que constantemente a missão é alvo de críticas quando se toca nesse assunto. "Para quem não conhece o problema parece muito fácil desarmar gente dentro de favelas. Dentro de gabinete é facílimo dar solução para todos os problemas do mundo", argumentou, deixando claro que "quando se está no terreno, dentro de favelas com 500 mil habitantes, sabemos o quanto é difícil desarmar uma gangue".

Também para os ex-militares, observou ele, foi traçada uma estratégia implantada desde o início da missão em junho de 2004. "Hoje, nós temos um movimento dos ex-militares em uma situação completamente diferente do ano passado, chegando ao ponto de, na semana retrasada, 200 ex-militares volutariamente se desmobilizarem". Na visão do general, "o desarmamento está acontecendo como fruto de uma estratégia e vai continuar a acontecer".

Indagado sobre o número de armas já recolhidas, o general Heleno ponderou que "esse número não é significativo, é só estatística que não resolve nada". Na sua opinião, "o que interessa é desarmar os espíritos", uma vez que todos podem ter armas dentro de casa no Haiti. Para ele, recolher arma não tem relação direta com desarmamento, porque o cidadão compra outra no mercado negro. "Se ele não estiver disposto a se desarmar, se não houver uma outra situação no país, vamos desarmar e daqui um mês têm novos grupos armados e novas armas, até mais novas, dentro do país".

A solução mais eficaz no sentido de "desarmar os espíritos", defendeu o general Heleno, está na implantação de programas de desenvolvimento social. "Ou você implanta um novo nível de desenvolvimento no Haiti, ou você implanta os projetos sociais e econômicos, ou você não vai desarmar o país nunca", desabafou.

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