Estudo divulgado pela Fiesp aponta excesso de cautela na política de elevação da taxa Selic

23/03/2005 - 20h56

São Paulo, 23/3/2005 (Agência Brasil - ABr) - O Banco Central agiu com excesso de conservadorismo ao adotar, a partir de setembro do ano passado, uma política de elevação mensal da taxa básica de juros (Selic). Esta é a conclusão de estudo divulgado hoje pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Depecon/Fiesp), que poderá ser apresentado oficialmente ao governo federal.

"Foi excesso de cautela, como ir de galocha à praia. No nosso entender, a inflação vinha seguindo seu padrão normal e não era o momento para a intervenção", afirma o diretor do Depecon, Paulo Francini.

No estudo, a Fiesp enumera os efeitos colaterais de sete aumentos consecutivos na Selic: gasto adicional acumulado de R$ 4,09 bilhões com pagamento da dívida pública, valorização cambial e provável prejuízo às exportações, inibição de investimento, redução da atividade econômica e diminuição do ritmo de criação de empregos.

Na avaliação dos economistas da Fiesp, a elevação de juros foi motivada pela meta de inflação de 5,1%, considerada "ambiciosa e desnecessária". O estudo mostra que desde a adoção do câmbio flutuante, em 1999, a média de inflação no Brasil é de 7,4% ao ano ou 0,59% ao mês (desconsiderado o pico do final de 2002).

A meta de 5,1% para 2005, diz o estudo, é incompatível com a estrutura da inflação, pois pressupõe uma alta de apenas 6,7% (30% a menos que a média de 2004) nos preços monitorados – aqueles relacionados a setores privatizados ou regulados pelo poder público, como telefonia, energia e petróleo. No entanto, a inflação desses preços monitorados nunca ficou abaixo de 10%. Embora correspondam a 30% do universo de preços do país, eles foram responsáveis por 40% da inflação de 2004 e influenciam o custo dos preços livres.

"A indexação persiste nos preços monitorados pois sua evolução é baseada na inflação passada e em outros fatores, como o câmbio", explica Paulo Francini, para quem o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu elevar os juros preocupado com o aumento "acima do normal" do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). "Foi um equívoco, pois os juros influenciam os preços livres, que já estavam no seu caminho. Os preços monitorados são pouco afetados pela política monetária", garante.

A Fiesp também questiona outro argumento do BC, o risco de inflação por excesso de demanda, O estudo garante que em setembro do ano passado a produção da indústria e as vendas reais do comércio apresentavam sinais evidentes de acomodação. "A capacidade das empresas de reagir à demanda é muito mais engenhosa do que se imagina. Só quem não conhece a dinâmica da atividade industrial pode imaginar que ela assista passivamente ao esgotamento de sua capacidade de produção", afirma Paulo Francini.

O trabalho do Depecon mostra que foi ineficaz o remédio adotado pelo BC para conter a demanda. O crédito ao setor privado manteve sua taxa de expansão em torno de 11,48% ao mês e o crédito para pessoas físicas cresceu a partir de setembro. Os spreads bancários também se mantiveram estáveis, uma vez que a elevação da Selic não resultou em agravamento do risco Brasil. "Só o Copom enxergou riscos para a economia brasileira", conclui o estudo.

O diretor do Depecon é ainda mais incisivo: "Assistimos e estamos assistindo a uma sobreposição de decisões questionáveis, com meta de inflação ambiciosa e decisão prematura de intervenção com alto custo e risco pela forma como foi feita. Perdem o investimento, a geração de emprego, o contribuinte e a atividade exportadora. Ganham os detentores de capital."