Comitê da ONU aponta Brasil como país mais avançado no combate à fome e à pobreza

16/03/2005 - 6h51

Christiane Peres
Da Agência Brasil

Brasília – Das experiências apresentadas durante a 32ª Sessão do Comitê Permanente de Nutrição das Nações Unidas, em Brasília, o estudo de caso brasileiro foi apontado como "o mais adiantado" no combate à fome e à pobreza. Segundo o secretário executivo do comitê, Roger Shrimpton, dos quatro países analisados – Angola, Bolívia, Brasil e Moçambique – a situação brasileira é a mais "favorável".

"As taxas de desnutrição de crianças são pequenas, se comparadas com Angola e Moçambique por exemplo. O Brasil tem produção de alimentos suficiente para atender a demanda por uma alimentação saudável. A questão, ao que parece, é criar soluções que garantam às comunidades carentes o acesso à renda e conseqüentemente à comida de boa qualidade", afirma.

Para ele, no que se refere às estratégias de combate à pobreza e à fome, pode-se considerar que o país avança ao adotar medidas de transferência de renda. De acordo com o estudo brasileiro, "uma política massiva de transferência direta de renda é a alternativa mais imediata para o enfrentamento do problema no Brasil.

Segundo o coordenador técnico da Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos (Abrandh), Flávio Valente, o programa Bolsa Família é um avanço nesse sentido. "Pesquisas indicam que 70% do dinheiro que essas famílias recebem dos programas, elas gastam com alimentação e, geralmente, com alimentação de uma qualidade melhor do que elas tinham antes", revela.

Para o secretário executivo do comitê, a troca de experiências tem proporcionado grandes avanços nos quatro países analisados. Segundo ele, "quando se começa a mostrar as dificuldades e os avanços outros caminhos aparecem".

Roger Shrimpton acredita que o Fome Zero é um conceito "muito bem desenvolvido", mas para que o programa brasileiro tenha um impacto maior é necessário complementá-lo. "Existe uma necessidade que vai além daquela de dar o alimento ao pobre. A distribuição de renda no Brasil é muito desigual, então a tentativa do governo brasileiro de corrigir essa situação com transferência de renda direta é admirável. O que se precisa fazer é acoplar a ela outras medidas que protejam além dos vulneráveis economicamente, aqueles vulneráveis biologicamente, como as mulheres grávidas", destaca.

Segundo Shrimpton, já que o governo brasileiro está assumindo mundialmente a liderança em alimentação nutricional seria "muito importante para outros países uma ajuda do Brasil". "O Brasil está se inserindo numa sociedade mais avançada, onde políticas de transferência de renda são condutas normais de governo. Além disso, o Brasil tem a vantagem de um histórico de programas de nutrição e alimentação riquíssimo. A atual situação institucional do país também é favorável, coisa que os outros países não têm. Por isso, acredito que o Brasil possa desenvolver um papel de apoio aos outros três países, especialmente Angola e Moçambique", afirma.