Brasília, 15/3/2005 (Agência Brasil - ABr) - Uma série de palestras, a exibição de um filme e o encontro de seis ex-ministros marcaram hoje os 20 anos de criação do Ministério da Cultura, que até então funcionava junto ao da Educação. O ministro Gilberto Gil lembrou que "20 anos é uma idade onde a maturidade começa a ser vislumbrada, é a juventude dando espaço a uma vida mais madura". E acrescentou: "É assim na vida, e esperamos que seja assim aqui."
Gilberto Gil homenageou os ex-ministros – "temos aqui seis jardineiros que plantaram as sementes e regaram as primeiras plantas" – e os convidou para formar um conselho informal de reflexão sobre a cultura. O cineasta Ipojuca Pontes, que já ocupou a pasta da Cultura, assim, como Luiz Roberto Nascimento Silva, disse estar disponível "para ajudar o país".
O ministro destacou ainda a necessidade de diálogo das oposições: "É uma visão compartilhada. A construção da comunalidade só pode se dar dessa maneira. É complicado, um pouco utópico e de construção difícil, mas não podemos nos furtar a esse exercício que precisa ser feito na República e na democracia."
O primeiro a assumir o novo ministério foi o então deputado José Aparecido de Oliveira, chamado logo depois para governar o Distrito Federal e substituído por Aluisio Pimenta. "Não tínhamos cadeiras e nem um centavo", contou Pimenta, ex-reitor da Universidade Federal de Minas Gerais. Emocionado, ele lembrou ter convidado um índio para participar da Voz do Brasil: "Recebemos uma reclamação, de que o programa estava sendo veiculado em língua estrangeira." Segundo o ex-ministro, "a cultura é a base da independência e o mau administrador é aquele que nunca pisou em bosta de boi e só conhece os livros".
Outro ex-ministro, Sérgio Rouanet, ressaltou que a cultura não pode ser excludente e deve trabalhar com todos os pólos. Ele citou três deles: no primeiro, convivem o nacional e o estrangeiro. "A nossa obrigação é fomentar a cultura brasileira e evitar qualquer tipo de xenofobismo. Se tivéssemos proibido a entrada do jazz, não teríamos a bossa nova", disse.
O segundo pólo, segundo Rouanet, inclui o popular e o erudito. "Os dois gêneros se complementam, pois o erudito pensa teoricamente o sofrimento e a opressão da classe popular", afirmou. E no terceiro estão o governo e o mercado. "Não se pode fomentar a cultura só com o orçamento do ministério, nem pagar os salários da Orquestra Sinfônica com o mercado", lembrou o criador da lei de incentivos fiscais para patrocínio de projetos culturais, a chamada Lei Rouanet (8.313/91).
O também ex-ministro Hugo Napoleão lembrou que "a Alemanha só se reconstruiu da guerra e a Coréia do Sul se tornou um dos Tigres Asiáticos por meio da educação e da cultura". Já Jerônimo Moscardo afirmou que "a cultura não é um ministério, mas um magistério, que trata das causas grandes. Tem uma função que não é de migalha, mas de milhão".