União Africana aprova consenso sobre reforma do Conselho de Segurança da ONU

08/03/2005 - 16h28

Juliana Cezar Nunes
Enviada especial

Adis Abeba (Etiópia) - A União Africana aprovou nesta terca-feira por consenso a reforma das Nações Unidas com foco na reestruturação do Conselho de Segurança. Os chanceleres de 54 países da África decidiram pela chamada opção 'A' para a mundança do conselho. Por essa opção, haverá mais seis vagas permanentes no conselho – sendo duas destinadas à África e o restante para Ásia, Europa e Américas (uma para cada continente). No entanto, os países não teriam direito a veto. A chamada opção 'B' não prevê novos assentos permanentes e os países ocupariam as cadeiras por um período de quatro anos.

Segundo o ministro das Relações Exteriores da Etiópia, Sejum Mesifen, o próximo passo da União Africana é enviar a proposta para a ONU. "Depois disso, vamos começar a discutir os candidatos africanos para as duas possíveis vagas no Conselho de Segurança", revela Mesigen. Entre os países que já declararam interesse na candidatura estão África do Sul, Nigéria, Egito, Líbia e Quênia.

O diretor do departamento da África no Itamaraty, Pedro Motta, avalia que a articulação dos países africanos, demonstrada pelo consenso, mostra que o continente vive um novo momento. "A visita do ministro Celso Amorim à sede da União Africana pode ser considerada um encontro histórico. Trata-se do encontro com a África moderna, que está fazendo um esforço digno para se tornar um continente forte", avalia Motta.

Já o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, acredita que a União Africana será um dos principais interlocutores do Brasil na região, principalmente no aspecto da cooperação política e nas operações de paz e segurança. "Ao recorrer à União, estaremos mostrando que nossa intenção não é simplesmente nos metermos nos assuntos africanos, mas cooperar", explica Amorim. "E essa cooperação terá duas vias. De um lado, por exemplo, poderemos ajudar na organização de eleições. Por outro, eles podem nos ensinar muito sobre como fazer com que blocos regionais se unam em torno de uma estrutura maior ainda."

A União Africana foi criada em 2001 e substitui a Organização da África Unida. De acordo com o presidente executivo, Alpha Omar Konare, a principal mudança conceitual trata da perspectiva de integração. A antiga organização tinha como principal tema da agenda as preocupações com a descolonização do continente.

"Temos uma olhar mais holístico agora. Em relação ao Conselho de Segurança, por exemplo, não reivindicamos apenas uma mudança de estrutura, mas um debate sobre eqüidade e participação", conta Konare. "Internamente, temos incentivado a boa governança, a iniciativa privada, o envolvimento da sociedade civil e o empoderamento das mulheres."

Segundo Konare, o olhar africano está voltado para o futuro independente do continente. As parcerias agora serão com países em desenvolvimento, como o Brasil. Os líderes africanos querem ser mediadores dos próprios problemas, sem a ajuda de países que costumam intervir em caso de conflitos na África.