Na ONU, ministra Nilcéia Freire defende mulheres nas Metas do Milênio

02/03/2005 - 17h44

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Em discurso na 49ª Sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, a ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire, criticou as Metas do Milênio por não fazerem referência às mulheres.

"Segundo a ONU, 70% das pessoas em todo o mundo, que vivem abaixo da linha da pobreza, são mulheres. Para reduzirmos em 50% a população que vive na extrema pobreza temos que pensar que esta se constitui em 70% por mulheres. Portanto, há que se estabelecer estratégias específicas para elas", afirmou Nilcéa. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) foram definidos pelos países membros da ONU para melhorar a situação da população até 2015.

Referindo-se à plataforma de Ações de Beijing, criada em 1995 durante conferência naquela cidade, a ministra voltou a criticar as metas dizendo que "a Plataforma de Beijing contém as Metas do Milênio, mas o contrário não é verdadeiro". Para a ministra, "é necessário incorporar estratégias definidas em Beijing e admitir que a discriminação e a violência contra a mulher são variáveis que concorrem para seu empobrecimento e marginalização no mundo do trabalho".

Nilcéa lembrou ainda que, segundo o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, um grande número de países retrocedeu em seu processo de desenvolvimento durante os anos 90. Em 46 países, o povo está mais pobre que na década anterior e, em 25 países, mais pessoas sofrem com a fome. "Se este ritmo for mantido, as Metas do Milênio não serão simplesmente alcançadas em muitas partes do mundo. Sem diminuir ou rebaixar sua importância, podemos dizer que as Metas têm um caráter pragmático e minimalista".

De acordo com a ministra "a nós mulheres cabe a construção de um outro pacto de desenvolvimento global na qual homens e mulheres, lado a lado, sejam protagonistas de uma nova história em um mundo mais justo e igualitário".

A Plataforma de Ações foi firmada, em 1995, durante a 4ª Conferência Mundial da ONU para discutir os problemas mundiais das mulheres, realizada em Beijing, na China. Ao todo, 180 países estavam representados e aproximadamente 35 mil pessoas participaram. O Brasil aderiu à Plataforma, que traz recomendações e propostas para reduzir as desigualdades e os problemas que afetam as mulheres.

Dez anos depois, os avanços e as dificuldades para implementar a Plataforma estão sendo discutidos em Nova York. "Trazemos alegrias e frustrações pelo que não pudemos fazer e preocupações frente a um cenário internacional onde se aumentou a violência e se acumulam disparidades econômicas entre os países e, como conseqüência, mais do que nunca estão violentando os direitos humanos", disse a ministra.

Para ela, a Plataforma de Ação "é o mais completo guia para quem, em seus países, luta por avanços na situação das mulheres e para os governos com disposição de enfrentar as desigualdades de gênero e afirmar a igualdade com o mais amplo respeito às diferenças".