Keite Camacho
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os corpos dos sem-teto Vagner da Silva Moreira e Pedro Nascimento, mortos nesta quarta-feira durante a desocupação do Condomínio Sonho Real, no Parque Oeste Industrial, em Goiânia, foram enterrados no cemitério Vale da Paz. O cortejo foi acompanhado por moradores do parque desocupado. Três dos procurados pela Polícia Militar com base em mandados de prisão, expedidos ontem, estavam no enterro. Mas todos fugiram antes de serem presos.
Nesta quarta-feira, o secretário especial de Direitos Humanos, ministro Nilmário Miranda, foi ao Instituto Médico Legal (IML) de Goiânia quando Dalvina Mendes da Silva França chegou para reconhecer o corpo do filho Vagner da Silva, o primeiro a ser identificado e liberado. Só no meio da tarde desta quarta-feira parentes de Pedro foram ao IML para fazer o reconhecimento.
Raimundo Pereira da Silva Filho disse que só viu o buraco de bala abaixo do peito direito do irmão Pedro e não observou mais nada. "Não consegui [olhar mais]", disse Raimundo, que não morava no condomínio. Ele contou, entretanto, que outra testemunha viu quando seu irmão foi baleado. De acordo com o relato, Pedro, depois de já estar algemado, "foi arrastado por um certo tempo e deixado perto de um bar. Quando viram que estava morto, largaram-no e partiram para outro lado. Com uma bala, matavam duas pessoas", afirmou Raimundo.
Segundo Raimundo, os corpos teriam sido jogados em cisternas e depois os policiais passavam máquinas, alegando que era para a passagem do carro da polícia. "Para fazer a faxina, como eles costumam falar", acrescentou.
Já Dalvina observou escoriações na face do filho. Ela disse que Vagner estava com o tio quando foi alvejado. "Meu irmão e meu filho correram e os policiais atiraram pensando que eram dois bandidos. Meu irmão foi tentar pegá-lo, mas queriam atirar nele também. Ele correu, mas o levaram preso", contou Dalvina. Nesta quarta-feira, a Polícia Militar de Goiás negou a existência de outras mortes na desocupação. "Isso é uma falácia", disse o tenente-coronel Antônio Elias. A Polícia Militar também confirma que um tenente foi ferido durante a operação de desocupação.
Nesta quarta-feira, o secretário estadual de Segurança Pública, Jônathas Silva, acusou os sem-teto de estarem armados e terem enfrentado a polícia. "O lado de lá estava muito bem armado. As informações que temos é de que os policiais agiram exclusivamente no cumprimento do seu dever", disse.
Para Dalvina, os moradores do condomínio desocupado pelos policiais viveram momentos de terror. "Foi um terror. Os policiais chegavam com metralhadoras na frente do povo, e não podíamos mais sair porque atiravam na gente."Vi atirando em velhinhos, em uma criança. Caiu uma bomba bem do meu lado", desabafou.
Gláucia Maria, moradora do Parque Oeste Industrial, disse que o que houve foi um massacre. "A polícia entrou atirando e não deu chance. Todo mundo estava com os lencinhos brancos, pedindo para que não atirassem, mas não resolveu muito. Entraram armados, batendo, atirando, judiando das pessoas, humilhando, fazendo as mulheres beijarem a bota deles, colocando a arma na cabeça de crianças. Mataram o Vagner sem motivo", afirmou.