"Ela cansou de chorar no telefone", dizem companheiras de Dorothy Stang

17/02/2005 - 20h17

Spensy Pimentel
Enviado especial

Anapu (Pará) – Companheiras de trabalho da missionária norte-americana e naturalizada brasileira Dorothy Stang disseram que a religiosa "cansou de chorar ao telefone, mas ninguém aparecia". As amigas da freira não quiseram se identificar porque temem por suas vidas após as quatro mortes em conflitos ligados à terra no interior do Pará.

Pessoas próximas à missionária questionaram a atuação do governo na região. "E quando o Exército for embora? Eles tinham que ter vindo antes de acontecer", contestam. Segundo a Comunicação Social do Exército, os soldados deverão fornecer apoio logístico, como transportes e alojamento, além de segurança a equipes do Ministério do Trabalho, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e das polícias Federal, Militar e Civil.

Dados parciais da Comissão Pastoral da Terra (CPT), indicam que 161 pessoas foram ameaçadas de morte no país, em 2004, em decorrência dos conflitos agrários. Só no estado do Pará foram denunciadas 40 ameaças, entre elas a da agente pastoral Dorothy Stang, assassinada no sábado (12) em Anapu. Nessa mesma região, a CPT registra duas outras pessoas ameaçadas de morte: Domingos Araújo Gomes e Ondino Ferreira da Conceição, ambos líderes de movimentos sociais que atuam contra grileiros e madereiros.