Comissão externa do Senado acompanhará investigações sobre crime em Anapu

17/02/2005 - 19h43

Bianca Estrella
Da Agência Brasil

Brasília - O Senado Federal instalou hoje uma comissão externa para acompanhar as investigações do assassinato de freira norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang, no Pará, sábado passado. Na próxima terça-feira (22), a comissão fará audiência pública, no Senado, para ouvir o bispo da Prelazia do Xingu em Altamira, Dom Erwin Krautler, e o secretário de defesa social do Pará, Manoel Santino.

Composta por oito senadores, a comissão já está funcionando há uma semana, informalmente, e é presidida pela senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA). Para o senador Luiz Otávio (PMDB-PA) a criação de uma comissão de senadores para acompanhar os trabalhos de investigação sobre o crime contra a missionária vai mostrar à Casa que a questão agrária gera muitos problemas. Para ele culpar o governo federal, estadual ou municipal pela morte da missionária norte americana é um absurdo.

"A questão agrária na região já provoca problemas há trinta anos. Dizer que o governo é conivente, para mim, é errado" afirma Luiz Otávio. Para ele, os problemas agrários não acontecem apenas no Estado do Pará e "o Incra precisa definir um plano de Reforma Agrária urgente em regiões como estas".

Para Luiz Otávio, o envio de tropas federais para a região pode comprometer o trabalho e a renda dos moradores. "É preciso haver um plano que promova a geração de renda em Anapú. A criação de uma reserva é importante mas talvez não resolva a situação do povo", afirma.

A senadora Fátima Cleide (PT-RO) considera mais do que justificada a presença de tropas federais no Pará. "A morte anunciada é a vitória da vilania e o fracasso das instituições", disse Fátima Cleide, ao lembrar que Dorothy Stang, no ano passado, já denunciava estar ameaçada de morte. A senadora declarou que o Estado de Roraima está em segundo lugar na relação das mortes no campo, atrás, apenas, do Pará, e cobrou o fim da impunidade no campo.

Já o senador Demóstenes Torres (PFL-GO) entende que o governo federal é o grande culpado pela morte da missionário norte-americana no assentamento de Anapú. Segundo ele, Dorothy procurou o secretário Nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, uma semana antes de ser assassinada.

"O Estado se omitiu e o secretário deveria ser demitido porque não cumpriu com seu dever que era dar proteção", afirmo senador, que acrescenta: "Depois de consumado o crime, repulsa verbal e mobilização de ministros representam algo fingido e orquestrado para durar enquanto o assunto estiver em evidência na mídia".