Pesquisador aponta que renda de trabalhador não reflete crescimento na produção industrial

11/02/2005 - 17h33

Pedro Z. Malavolta
Da Agência Brasil

São Paulo - O crescimento na produção industrial brasileira em 2004 – o maior desde 1986, com taxa de 8,3%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – não está se refletindo na renda dos trabalhadores, segundo o pesquisador Cláudio Amitrano, do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, de janeiro a novembro, lembra o pesquisador, mostram que a incorporação de pessoas no mercado de trabalho se deu por meio de ocupações em faixas de renda muito baixas, principalmente em setores como serviços domésticos e construção civil.

Esse dados, segundo Amitrano, são confirmados pelos Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) do Ministério do Emprego e Trabalho. "O saldo líquido entre admitidos e desligados ocorreu exclusivamente nas faixas de renda até três salários mínimos. Enquanto os processo de incorporação das pessoas se derem nessas faixas de renda mais baixas, dificilmente teremos um aumento significativo da renda média dos trabalhadores", afirma Amitrano. "De certa forma, há uma substituição de trabalhadores nas faixas de renda mais altas por trabalhadores nas faixas de renda mais baixas", comenta.

O pesquisador lembra ainda que esse movimento de incorporação nas faixas salariais mais baixas verificou-se durante a última década do século passado: "Isso é provocado por uma especificidade do mercado de trabalho brasileiro, uma vez que a escolaridade média cresceu. O natural seria que as faixas de renda também subissem."

Na opinião de Amitrano, as políticas de crédito, microcrédito e desconto de prestações na folha de pagamento influenciaram o aumento da produção industrial. "Resta saber qual é o fôlego dessas políticas", questiona. O limite, segundo ele, é a própria renda dos trabalhadores, e uma expansão do crédito só será possível se a renda dos trabalhadores crescer mais que as taxas de juros. "O limite dessa política em 2005 está associado a como vai se comportar a política de juros domésticos", conclui.