Lula diz que vaia é democrática, mas pode atrapalhar divulgação de boas ações

11/02/2005 - 20h04

Ana Paula Marra
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Apesar de reconhecer que a vaia é a "maior demonstração do princípio democrático", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que, muitas vezes, ela pode atrapalhar a divulgação das boas ações feitas por políticos, empresas ou pelo próprio governo. "É sempre muito desagrádavel quando você vem para uma inauguração de uma obra e uma autoridade é vaiada. Dá para a imprensa o pretexto de amanhã: ao invés de sair na manchete a inauguração da obra, sai a manchete de que um prefeito, um ministro ou o presidente foi vaiado", disse Lula, ao discursar em Caruaru (PE), durante o lançamento da Clínica Asa Branca.

A clínica é um centro público de especialidades odontológicas que faz parte do programa do governo federal Brasil Sorridente. Antes de Lula falar, o prefeito da cidade e o governador em exercício de Pernambuco, Mendonça Filho, foram vaiados pela platéia.

Lula citou como exemplo a experiência que viveu este ano, ao discursar no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. "Num lugar que tinha 12 mil pessoas, 60 ou 70 pessoas de um partido recém-saído do PT vaiaram. Aí, a imprensa deu as vaias como manchete", disse ele.

O presidente destacou, no entanto, a necessidade de um político aprender a conviver tanto com os aplausos quanto com as vaias para se sair bem dessas situações. "A vaia é a demonstração do princípio democrático da população, por isso, a gente também tem que aprender a conviver com ela. Eu penso que vaia e aplauso são a mesma coisa: um se faz com a mão e outro com a boca. Os ouvidos têm que se acostumar. Temos que preparar o ouvido para as duas coisas, que aí a gente acaba fazendo bem", afirmou.

Ele disse que a maior vaia que já recebeu em sua vida política foi durante a fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT). "Vaia grande recebi na fundação da CUT, quando metade das pessoas queria criá-la e outra metade, não. Eu tive que falar uma hora embaixo de vaia da metade das pessoas que não queriam criá-la", contou o presidente.