Brasil sempre manteve avanço técnico em cirurgia cardíaca

02/02/2005 - 13h22

Lana Crisinta
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A cirurgia cardíaca brasileira esteve, principalmente depois da década de 50, páreo com as técnicas aplicadas em países desenvolvidos. Um dos maiores avanços foi o aperfeiçoamento da circulação extra-corpórea, que permitiu que as cirurgias fossem realizadas com o coração parado. Além disso, os médicos brasileiros conseguiram adaptar órteses e próteses, o que barateou os procedimentos cirúrgicos.

Outro marco veio na década de 60, quando o cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini, do Instituto do Coração (InCor), da Universidade de São Paulo (USP), realizou o primeiro transplante cardíaco da América Latina, em maio de 68. Isso foi menos de seis meses depois do primeiro transplante do mundo, feito pelo médico sul-africano Christian Barnard, em Capetown.

Delmont Bittencourt, assistente de Zerbini, viajou para África do Sul, logo após o procedimento pioneiro, onde reuniu as informações para realização do transplante no Brasil. Houve problemas de rejeição nas primeiras operações, até porque não estava disponível ainda a ciclosporina, medicamento que diminui a defesa do organismo.

Dos três primeiros pacientes transplantados no país, só um sobreviveu por cerca de um ano. No entanto, os médicos conseguiram provar a eficiência da técnica cirúrgica e do pós-operatório. O controle da rejeição e de processos infecciosos era, então, quase impossível não só aqui, mas em todos os centros mundiais.

Isso levou o Brasil a ter credibilidade na área, embora tenha havido em seguida quase que uma interrupção na realização de transplantes de coração. Como conseqüência, os cardiologistas brasileiros continuaram promovendo experiências pioneiras e de excelência. Um exemplo foram as novas técnicas de proteção miocárdica, uma cirurgia que permite a revascularização coronariana, bem como a nova abordagem dada a doenças do coração congênitas complexas.

O cirurgião Adib Jatene realizou em 1975 cirurgia inédita no país para tratar uma enfermidade coronariana congênita. Esse procedimento é tido como indutor da qualificação internacional da cirurgia cardíaca nacional.

Os procedimentos de transplante cardíaco voltaram a ser feitos a partir de 1985, já com o uso da ciclosporina, em cidades como Porto Alegre e São Paulo. Foi na Beneficiência Portuguesa, que a equipe do professor Zerbini realizou o primeiro transplante cardíaco em paciente cardíaco portador de doença de Chagas. Manuel Amorim da Silva foi operado no dia 3 de junho e, 10 anos depois, está bem e é monitorado pelos médicos que fizeram a troca de seu coração.

No mesmo hospital, a equipe do cirurgião José Pedro da Silva fez o primeiro transplante cardio-pulmonar da América Latina, em dezembro de 1988. A mesma equipe conseguiu, em 1992, o primeiro transplante em um paciente preservando o coração original e implantando o órgão do doador como auxiliar.