Compras do BC não impedem desvalorização do dólar

01/02/2005 - 13h21

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Apesar das compras quase diárias que o Banco Central vem fazendo há dois meses para consolidar as reservas externas do país, o dólar norte-americano continua em queda, para desespero dos exportadores. A desvalorização do dólar no exterior, somada à tendência interna de alta das taxas de juros, recebeu ontem o reforço adicional da emissão de US$ 1,25 bilhão em títulos do Tesouro Nacional no mercado externo.

Como resultado, a taxa de câmbio no mês de janeiro fechou a R$ 2,61, o nível mais baixo desde 5 de junho de 2002, com desvalorização de 1,66% no mês. Mas a queda não é de hoje. Ela se registra de forma consistente há quase dois anos, o que desperta o interesse dos investidores em geral para possível compra da moeda estrangeira, como forma de salvaguardar poupanças.

O BC até disponibilizou na internet um link específico para ajudar na pesquisa de bancos, corretoras e distribuidoras de valores autorizados a operar no mercado de câmbio. Mas, a exemplo do que aconselham os bons manuais de investimentos, o banco adverte que "não se deve colocar todos os ovos na mesma cesta", e acrescenta que diversificar as aplicações é a forma mais segura para reduzir riscos.

O recado é endereçado principalmente ao pequeno investidor que, em muitos casos, não tem qualquer familiaridade com os termos do mercado, e pode ser induzido a comprar dólares apenas com base nos preços de mercado. Ele precisa saber, por exemplo, que dólar comercial (ou mercado livre) é a moeda de referência usada nas operações financeiras de exportação e importação, por empresas; e que as pessoas físicas não trabalham com essa moeda.

Já o dólar turismo, operado no mercado flutuante, corresponde ao preço da moeda norte-americana para quem vai viajar ao exterior; quase sempre negociado em traveller check (cheques de viagem) para troca no exterior, mediante pagamento de taxa. Apenas uma pequena parte é fornecida em dinheiro circulante. Essa norma também se aplica ao euro turismo.

Em qualquer dos casos, o limite livre para compra corresponde ao equivalente a R$ 10 mil. Acima desse valor, a operação tem que ser feita em cheque ou débito em conta, uma vez que a instituição financeira vendedora tem que zelar pela licitude da operação, particularmente quanto à origem legal do dinheiro e identificação do cliente.

O segmento de mercado mais procurado por pessoas físicas para compra de dólar é o chamado "mercado paralelo" ou "câmbio negro" que, como o nome denuncia, está à margem da legalidade. Utiliza o dólar a cabo nas operações que envolvem remessa de dinheiro ao exterior (quase sempre de forma irregular), ou o dólar-papel em pequenas trocas, compras e vendas para viagens ou poupança.

Vale lembrar que todos os negócios no câmbio negro, bem como a posse de moeda estrangeira sem origem justificada, sujeitam o infrator às penas da lei. Como se trata de operação que envolve risco, tem também a sua cotação mais cara (em torno de 15% a 20% nas praças do Rio de Janeiro e de São Paulo) o que, por si só, afasta a maioria dos potenciais compradores. Tanto, que o nível de procura por moeda norte-americana também está em baixa; até junto aos turistas estrangeiros.