Ataques a moradores de rua em São Paulo continuam insolúveis

01/02/2005 - 16h03

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Passados mais de cinco meses dos ataques em série aos moradores de rua da região central da cidade de São Paulo, que deixou sete mortos e oito feridos, não há pessoas indiciadas ou acusadas. Três policiais militares suspeitos chegaram a ser detidos, mas não foram incriminados por falta de provas.

Um segundo inquérito corre em âmbito da policial civil e as investigações passaram a contar, há duas semanas, com a participação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo.

Com esse reforço, o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral de Rua da Arquidiocese de São Paulo, acredita aumentarem as possibilidades do caso ser esclarecido. "Esperamos que as investigações dêem resultado e que possamos entender o que de fato aconteceu. Quem são os mandantes e executores desses crimes que acabaram conhecidos como "o Massacre da Sé", disse o religioso.

Padre Lancellotti defende a criação de políticas públicas que possam proteger a população de rua, definidas a nível federal. Além de mais segurança, ele observa que há a necessidade de medidas para o resgate da auto-estima dessa população. Nesse sentido, informou que em breve será instalada uma escola de formação profissional na capital Paulista, para capacitar os moradores de rua para a coleta seletiva de lixo.

Quanto às investigações, Lancellotti demonstrou preocupação com a demora em identificar e punir os responsáveis. "Passado tanto tempo, fica mais difícil obter testemunhas que acompanharam os fatos e preservar o que aconteceu. E levar tempo (essa demora) mostra que é um cenário difícil para a polícia e frágil para o grupo de pessoas que, normalmente, não tem acesso à Justiça", ponderou ele. A questão, justificou, é que os moradores de rua estarão sujeitos a novas ondas de violência.

Em sua opinião, apesar da grande cobertura da imprensa, nenhuma mudança substancial surgiu no sentido de alterar a realidade dos moradores de rua. "Por isso precisamos discutir políticas públicas", acrescentou. Estima-se que o número de moradores de rua alcance a quase 11 mil pessoas só na cidade de São Paulo.

Os ataques na região da Praça da Sé ocorreram entre os dias 19 e 22 de agosto passado. Todas as vítimas sofreram golpes na cabeça. Nas investigações, foram apontados três policiais militares como suspeitos, mas para o promotor Carlos Roberto Marangoni Talarico, do 1º Tribunal do Júri, não havia provas suficientes para indiciá-los. Ele não considera que o caso tenha voltado à estaca zero, e argumenta que a polícia tinha avançado em vários pontos, mas não conseguiu reunir provas que pudessem oferecer denúncia aos acusados.

Talarico informa que enviou um despacho com cerca de 20 páginas à Polícia Civil, responsável pelo caso, solicitando mais diligências na apuração.