Vencedores do DOCTV II participam de oficina de desenvolvimento de projetos

27/01/2005 - 7h04

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O vai-e-vem na Rodoviária de Porto Alegre, o ritmo, o transitório, a movimentação de pessoas, os funcionários do local. A vida de um lugar que se faz de idas e vindas. Este é o tema do documentário "Passagem", de Jaime Lerner, cineasta do Rio Grande do Sul. Nesta semana, ele está em Brasília juntamente com outros 34 documentaristas que ganharam os concursos estaduais do DOCTV II, programa do Ministério da Cultura para a produção de documentários de longa-metragem estaduais com exibição nacional na Rede Pública de TV.

Até o dia 31, a Oficina de Desenvolvimento de Projetos trabalhará dois aspectos: a convergência das produções e o investimento na qualificação dos filmes. O DOCTV "acentua a regionalização pois a temática dos filmes é relativa a aspectos de expressão da diversidade cultural regional", afirma o coordenador nacional do programa, Mario Borgneth. Neste sentido, a oficina é uma estratégia de "encontrar convergências nesses processos multilaterais, o único momento em que todos os autores selecionados estão discutindo com orientadores e entre eles todo o conjunto do DOCTV", explica.

O segundo objetivo da oficina, a qualificação dos filmes, é alcançado por meio de discussões e da formação dos 35 profissionais selecionados. Cinco cineastas já consagrados foram convidados a coordenar o encontro: Eduardo Coutinho, Maurice Capovilla, Jorge Bodanzky, Geraldo Sarno e Joel Pizzini.

Foram divididos para cada orientador sete projetos, que são analisados separadamente, já com os roteiros prontos. "Estamos trabalhando com a estrutura dos projetos, como estão sendo propostos, de que maneira os temas são abordados, o tratamento desses temas, fazendo uma análise geral", explica o cineasta-instrutor Maurice Capovilla. Para o também cineasta-instrutor Jorge Bodanzky, o importante é "a idéia que eles querem passar. A qualidade de um filme depende de como se conta a história, por isso a gente sugere o aprimoramento de uma idéia já concebida", ressalta.

O diretor de "Passagem", Jaime Lerner, já tem experiência anterior com o também documentário "Harmonia" (2000). Mas a maior parte dos participantes é iniciante na atividade. "A grande maioria é de jovens iniciantes. É um projeto que dá oportunidade a jovens que nunca tinham feito projetos dessa magnitude", diz Capovilla.

Um dos novatos é Márcio Venício Nunes, de Goiás. Com o tema "Santa Dica de Guerra e Fé", ele quer contar a história da messiânica Benedita Cipriano. "É uma resgate da força de uma mulher, milagreira, que tinha idéias socialistas e lutou politicamente no começo do século passado", conta. A única experiência de Márcio é com curtas metragens institucionais e não autorais. "Estou aprendendo a ter um olhar diferenciado do tema, a registrar não como a história propõe, mas com um olhar artístico. Está sendo uma grande lição, tenho pós-graduação em cinema e nunca tive a oportunidade de aprender o que estou vendo aqui na oficina", comemora o novo documentarista.

Cada um dos 35 projetos recebe R$ 100 mil para ser realizado. Todos terão 55 minutos de duração e devem estar prontos até julho. Em agosto começam as exibições. Os filmes serão exibidos nacionalmente na Rede Pública de TV, que abrange 1.900 municípios, alcançando 96 milhões de brasileiros. A TV Nacional, da Radiobrás, será um dos canais exibidores.

As oficinas são uma novidade em relação à primeira edição do programa DOCTV, que "é um projeto completo porque inclui desde a formação até a exibição regional e nacional", avalia Capovilla. Para o cineasta, "na televisão o cinema não existe, nem na aberta nem na fechada, com pequenas exceções. É uma novidade, a primeira relação direta da produção com a TV", comemora o Capovilla, que lança - no circuito comercial no início de maio – seu novo filme "Harmada".

Para o cineasta Eduardo Coutinho (Peões), "o governo deveria estimular muito mais a TV pública, mas o DOCTV pode ser um estímulo a outras parcerias entre cinema e televisão, principalmente na área não-comercial que é o documentário", afirma.