Luciana Vasconcelos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Uma comissão de negociação, formada por 15 lideranças indígenas, permanece na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Manaus, pelo menos até a próxima sexta-feira (28), quando será realizada nova audiência judicial para tentar encerrar a ocupação do local, que já dura quase um mês.
No início de janeiro, cerca de 100 índios ocuparam a sede da Funai. Eles pedem a saída do administrador, Benedito Rangel, e a nomeação de um índio para o cargo, além da demarcação de terras no município de Autazes (AM). A saída da maioria dos índios foi decidida após audiência na segunda-feira (24), em Manaus.
Um dos líderes da manifestação, Jecinaldo Barbosa, disse que a comissão vai acompanhar os trabalhos da Funai e buscar "entendimentos" com o administrador interino. "Durante esta semana, serão elaboradas propostas de encaminhamento para uma nova gestão da Funai em Manaus, de uma forma participativa, em que os indígenas vão trabalhar uma lista tríplice para um novo administrador, tendo em vista que não há mais condições de trabalho com esse administrador, independentemente de irregularidades apontadas pelas lideranças", afirmou Jecianaldo. Segundo ele, o antigo administrador não ouvia as reivindicações da população indígena.
O vice-presidente da Funai, Roberto Lustosa, disse que o órgão está buscando um diálogo com os índios, mas não é possível eles escolherem o novo administrador, como estão querendo. "Essa função é do presidente do órgão", disse.
Para Lustosa, a ocupação vem trazendo prejuízos a diversas etnias, uma vez que os trabalhadores não estão indo para o trabalho devido a ocupação. "Nossos funcionários não podem entrar porque os índios não oferecem condição de segurança para eles", afirmou. "A Funai está completamente paralisada. Temos várias atividades fundamentais que estão interrompidas, como o próprio fechamento contábil do ano, assistência aos índios que não está sendo feita", completou.
De acordo com o vice-presidente, há uma situação gravíssima em Tefé (AM) onde quatro índios foram assassinados por madeireiros e com o órgão paralisado não há como dar assistência aos índios. "Os madeireiros estão ameaçando voltar ao local, com um grupo maior e mais armado e os índios da região estão assustados e desprotegidos porque a Funai de Manaus não tem condições de dar amparo", ressaltou.
Jecinaldo Barbosa disse que o crime em Tefé mostra que a Fundação está "mal aparelhada, ultrapassada e totalmente incapaz de fazer uma fiscalização, um projeto de proteção das terras indígenas". Ele afirma que os índios querem ajudar ao órgão.